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populacao negra

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A situação da pesquisa sobre disparidades raciais no Brasil<br />

Dinâmicas políticas e culturais têm sido um instrumento importante no<br />

delineamento da pesquisa sobre HIV e saúde de maneira mais geral no Brasil. Até<br />

recentemente, muito poucas pesquisas tinham se atido à saúde da população<br />

afrodescendente ou às disparidades raciais no país. Esse fato deveu-se primordialmente<br />

à supressão da pesquisa sobre raça durante a maior parte do século<br />

XX, sobretudo durante a ditadura militar (1964-1985). Além disso, a ideologia<br />

da democracia racial havia sido usada por muito tempo para promover a crença<br />

de que as diferenças e desigualdades raciais não são importantes no país. Essas<br />

crenças moldaram posturas populares, bem como as pesquisas e as agendas das<br />

políticas, inclusive aquelas em áreas relacionadas à saúde. Reconhecer os meios<br />

pelos quais os métodos oficiais de coleta de dados utilizados pelo governo brasileiro<br />

têm perpetuado a invisibilidade estatística dos afrodescendentes é fundamental<br />

para entender e avaliar o quanto as necessidades de saúde dessa população<br />

foram negligenciadas. A negação oficial da raça como uma categoria saliente<br />

de identidade social e de divisão social permitiu ao Estado brasileiro abandonar<br />

a coleta de dados raciais no censo nacional e nos registros do governo na maior<br />

parte do século XX. Além disso, até 2004, o Brasil não possuía uma política oficial<br />

que permitisse a coleta de dados de saúde por raça/cor no campo da aids, embora<br />

desde 1996 a informação tenha sido incluída no Sistema de Informação sobre<br />

Mortalidade (SIM) e Sistema de Informação sobre Nascimentos (SINASC). Antes<br />

do desenvolvimento dessa política, era extremamente difícil aferir a condição<br />

de saúde dos brasileiros de ascendência africana.<br />

No decorrer da última década, um pequeno, porém crescente, número<br />

de estudos ligados à pesquisa começou a se voltar para as disparidades raciais<br />

quanto à saúde, porém, a falta de dados tabulados por raça e a pequena<br />

quantidade de pesquisadores concentrados em tais disparidades apresentam<br />

desafios ao avanço do desenvolvimento da pesquisa nessa área 1 . Além do<br />

1 As pesquisas das teses de doutorado de Maria Inês Barbosa (1998) e de Fernanda<br />

Lopes (2003) trouxeram algumas das primeiras análises sobre disparidades étnico-raciais<br />

no campo da saúde pública no Brasil. A publicação em 2005 de um volume editado sobre a<br />

saúde da população <strong>negra</strong> pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) reflete a crescente<br />

discussão das disparidades raciais/étnicas na área da saúde no governo federal brasileiro<br />

(FUNDAÇÃO, 2005)

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