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populacao negra

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A história da família Kallikak se apresentava como modelo das circunstâncias<br />

que, segundo os eugenistas, podiam afetar a formação familiar. De um<br />

lado, o homem, ser naturalmente mundano; do outro, duas mulheres, a idealnormal,<br />

que procriaria uma linhagem perfeita para a sociedade, e sua antítese,<br />

a doente e degenerada, que reproduziria uma classe de fracassados. Daí, a<br />

importância do papel da mulher, que, submetida desde cedo ao controle de<br />

seus instintos sexuais e estando voltada para dentro do lar, seria o elemento<br />

mais adequado a prestar o serviço, visto como essencial, que era o de cuidar<br />

dos futuros trabalhadores da nação.<br />

Embora Goddard defendesse a restrição da reprodução de pessoas inferiores<br />

intelectual e mentalmente e o médico Ernani Lopes se referisse abertamente<br />

não só à defesa do aborto de incapazes, como sua efetiva execução,<br />

esse procedimento seria, normalmente, criticado pelos eugenistas brasileiros,<br />

que tendiam a considerar outras formas de eugenia mais apropriadas, as quais<br />

deveriam estar de acordo com as tradições católicas e conservadoras das famílias<br />

brasileiras.<br />

Mesmo assim, os problemas relacionados às incapacidades diversas que<br />

podiam afetar a população brasileira seriam alvo de debates controversos, que,<br />

considerados sob uma perspectiva científica e política, tenderiam para um direcionamento<br />

mais educativo, mas sem abrir mão das leis da hereditariedade. Por<br />

exemplo, o reconhecimento de Roquete-Pinto, no Congresso de Eugenia em 1929,<br />

da condição não degenerativa do mulato, colocando como finalidade da eugenia<br />

a educação das pessoas sobre a importância da hereditariedade, usando-se programas<br />

de saneamento concebidos pelo Estado para que participassem de forma<br />

voluntária na “purificação” da raça humana (Stepan, 2005). Já o médico Renato<br />

Kehl, embora defendesse também os meios educativos, aproximar-se-ia de uma<br />

posição eugênica mais extremada ao apontar a “fealdade” dos brasileiros e defender<br />

a eliminação dos “fracos”, dos “doentes” e dos “degenerados”, assim como a<br />

superação do “normal” sobre o “anormal”, como constatado em um texto de sua<br />

autoria publicado no BM em 1933.<br />

No pano de fundo desses debates estava o Governo Vargas, que possuía<br />

como características principais a ampliação do poder do Estado, a incorporação<br />

de novos grupos sociais, como a classe operária industrial, e a tentativa<br />

de implementação de mecanismos e políticas sociais de contenção de grupos

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