PROJETO DE LEI ORÇAMENTÁRIA - 2010O merca<strong>do</strong> de crédito manteve, em 2008 e no primeiro semestre de 2009, a trajetória de crescimentoobservada nos anos anteriores, apesar da desaceleração associada à crise financeira internacional. Amanutenção da tendência de aumento <strong>do</strong> crédito no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico só foi possível em virtudedas medidas a<strong>do</strong>tadas pelo Governo para mitigar os efeitos da crise sobre este merca<strong>do</strong>. Entre asdiversas medidas, destacam-se: a) a redução das alíquotas <strong>do</strong>s depósitos compulsórios, que liberouR$ 99,8 bilhões para o merca<strong>do</strong> de crédito; b) o empréstimo de R$ 100,0 bilhões pelo TesouroNacional ao BNDES de forma a regularizar a oferta de crédito para as empresas; c) a elevação, emR$ 10,0 bilhões, da linha de financiamento para capital de giro pelo BNDES; d) o aumento, emmais de R$ 23,0 bilhões, nas linhas de financiamento da CEF e <strong>do</strong> BB, incluin<strong>do</strong> automóveis, bensduráveis, financiamento à construção, à agricultura e às microempresas; e) a autorização para quebancos de menor porte pudessem acessar recursos <strong>do</strong> FGC, participar <strong>do</strong> redesconto e vender suascarteiras de investimento e de crédito a outros bancos; e f) a flexibilização pelo Bacen das garantias parao redesconto, passan<strong>do</strong> a aceitar títulos de carteiras de crédito de bancos em dificuldade financeira.O estoque total das operações de crédito, considera<strong>do</strong>s recursos livres e direciona<strong>do</strong>s, atingiu R$ 1.261,3 bilhões,em junho de 2009, com expansão de 2,6%, perante dezembro de 2008. Esse volume correspondeu a 43,2%<strong>do</strong> PIB, comparativamente ao patamar de 34,2% registra<strong>do</strong> ao final de 2007 (Tabela 3).Tabela 3 – Crédito por Origem de Recursos(R$ bilhões)Variação %Discriminação 2007 2008 2009 1 2008/2007 2009/2008Total 936,0 1.227,3 1.261,3 31,1 2,6Recursos Livres 660,8 871,2 889,8 31,8 1,8Direciona<strong>do</strong>s 275,2 356,1 371,5 29,4 4,7BNDES 160,0 209,3 215,6 30,8 3,9Participação %Total/PIB 34,2 41,3 43,2Rec. Livres/PIB 24,5 29,3 30,5Rec. Direciona<strong>do</strong>s/PIB 9,7 12,0 12,7BNDES/PIB 5,6 7,1 7,4Fonte: BCB. Elaboração: Assec/MP1 Da<strong>do</strong>s de junho de 2009.No início de 2008, a evolução <strong>do</strong> crédito seguiu algumas das tendências verificadas, em 2007, aexemplo <strong>do</strong> expressivo desempenho das operações referenciadas em recursos livres, impulsionadaspelas fortes expansões <strong>do</strong> leasing de veículos para pessoas físicas e <strong>do</strong> capital de giro para as empresas,além da relativa estabilização <strong>do</strong> crédito consigna<strong>do</strong>. Ao mesmo tempo, a elevação <strong>do</strong>s custos decaptação, decorrente das crescentes incertezas nos merca<strong>do</strong>s financeiros, conjugada com o aumentoda tributação sobre as operações de crédito, contribuiu para o aumento <strong>do</strong> custo <strong>do</strong>s empréstimos.A partir de setembro, quan<strong>do</strong> a retração da liquidez se manifestou de forma mais intensa, constatou-sesignificativo arrefecimento das novas concessões para as pessoas físicas, ao passo que os financiamentos24
MENSAGEM PRESIDENCIALpara as empresas mantiveram desempenho robusto até o final <strong>do</strong> ano, só mostran<strong>do</strong> retração em2009. Paralelamente, acelerou-se o ritmo de crescimento das operações com recursos direciona<strong>do</strong>s,bem como aumentou a representatividade <strong>do</strong>s bancos públicos no merca<strong>do</strong> de crédito. É importanteobservar que as restrições que afetaram a captação de recursos no merca<strong>do</strong> de capitais e no exterior,por parte das grandes empresas, contribuíram para impulsionar a demanda no merca<strong>do</strong> de crédito<strong>do</strong>méstico, ao mesmo tempo que demandaram pronta atuação <strong>do</strong>s bancos públicos para evitar afalta de crédito para micro e pequenas empresas. Por sua vez, a recuperação da demanda <strong>do</strong>méstica,observada em mea<strong>do</strong>s de 2009, particularmente a de bens duráveis, inclusive automóveis, tende afavorecer a retomada gradual <strong>do</strong> ritmo de expansão <strong>do</strong> crédito nos próximos trimestres deste ano.As medidas que alteraram as regras <strong>do</strong>s depósitos compulsórios foram tomadas para assegurar amanutenção de condições adequadas de liquidez no sistema financeiro, diante das incertezas observadas apartir de setembro de 2008. Entre as medidas, o Governo reduziu as alíquotas <strong>do</strong>s compulsórios, elevou osvalores a deduzir das exigibilidades, alterou a remuneração <strong>do</strong>s recolhimentos, além de mudar as regras deabatimentos decorrentes da aquisição de ativos de instituições financeiras de pequeno e médio portes. Essasalterações proporcionaram liberação efetiva de R$ 99,8 bilhões <strong>do</strong> sal<strong>do</strong> de recolhimentos compulsórios.A reversão <strong>do</strong> cenário econômico internacional, com des<strong>do</strong>bramentos sobre o crédito externo, modificoua atuação <strong>do</strong> Bacen no merca<strong>do</strong> de câmbio. As compras de dólar norte-americano no merca<strong>do</strong> spot(US$ 78,6 bilhões, em 2007, e US$ 18,7 bilhões nos nove primeiros meses de 2008) reverteram-se paravendas a vista (US$ 14,5 bilhões de outubro de 2008 a fevereiro de 2009); enquanto as modalidadesde linhas com cláusulas de recompra e de empréstimos em moeda estrangeira, principalmente aosexporta<strong>do</strong>res, passaram também a registrar vendas líquidas (US$ 13 bilhões nos últimos quatro mesesde 2008). Além destas medidas, o BCB vendeu US$ 32,4 bilhões em swaps cambiais e assinou acor<strong>do</strong>estabelecen<strong>do</strong> linha de troca de reais por dólares no montante de US$ 30,0 bilhões com o FED. Todasestas medidas tiveram como objetivo minimizar a volatilidade cambial e, em alguns casos, suprir afalta de crédito para a exportação.Ressalte-se o êxito dessas ações, uma vez que houve redução da volatilidade <strong>do</strong> câmbio e as reservasinternacionais voltaram a crescer. As vendas de dólar norte-americano no merca<strong>do</strong> spot cessaram,em fevereiro de 2009, e reverteram-se para compra em maio, enquanto as linhas com recompra e deempréstimos em moeda estrangeira tornaram-se compras líquidas a partir de janeiro.As reservas internacionais (no conceito de liquidez internacional) atingiram US$ 208,7 bilhões , em18 de setembro de 2008, o maior sal<strong>do</strong> já observa<strong>do</strong> até aquela data. Com o acirramento da crisefinanceira internacional e a atuação <strong>do</strong> Bacen no merca<strong>do</strong> de câmbio, estas reservas decresceram(US$ 199,4 bilhões em fevereiro de 2009). No entanto, com a reversão <strong>do</strong> fluxo de intervenções, quepassou de venda líquida para compra líquida tanto no merca<strong>do</strong> a vista como no futuro, as reservasinternacionais voltaram a se elevar em 2009 (US$ 208,4 bilhões em junho de 2009), suplantan<strong>do</strong> onível pré-crise e perfazen<strong>do</strong> novo recorde histórico. Mesmo consideran<strong>do</strong> o conceito mais restritivo(caixa 8 ), nota-se aumento das reservas internacionais (de US$ 186,9 bilhões, em fevereiro de 2009,para US$ 201,5 bilhões, em junho).8 O conceito caixa não inclui o estoque de linhas com recompra e as operações de empréstimo em moedas estrangeiras,apesar <strong>do</strong> prazo destas operações, cujo retorno se dará em até 360 dias.25