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Por um tempo, nosso relacionamento era a única coisa na minha vida da qual eu<br />
tinha certeza. M<strong>as</strong> Alex não é quem eu pensei que fosse, o que, ironicamente, é<br />
exatamente o que ele afirma ser contra: máscar<strong>as</strong>, ou “simulacros”, como diz<br />
Wrigley.<br />
Meus pais já sabem de tudo, desde que surtei, e têm sido muito atenciosos.<br />
Tanto que me levaram a uma psicóloga, dra. June Westerfeld, que é bem jovem<br />
e insiste em ser chamada de June. É uma moça magrinha, de cabelo comprido<br />
num tom escuro de louro e olhos verdes muito vivos. Está sempre de legging,<br />
evidenciando su<strong>as</strong> pern<strong>as</strong> malhad<strong>as</strong> e tornead<strong>as</strong>, com uns suéteres justos que<br />
realçam seus seios pequenos ainda empinados pela pouca idade, e usa<br />
maquiagem na medida exata, marcando <strong>as</strong> maçãs do rosto já perfeit<strong>as</strong> m<strong>as</strong> sem<br />
chamar muita atenção. Tudo isso dificulta sentir empatia por ela à primeira<br />
vista, ainda mais porque June tem um consultório no renomado Center City<br />
Philadelphia, ao lado da Rittenhouse Square, e parece já ter a vida toda<br />
encaminhada, ao contrário de mim, Nanette O’Hare, que não tenho<br />
absolutamente nada definido. Assim, noss<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> convers<strong>as</strong> são bem<br />
estranh<strong>as</strong>. June faz um monte de pergunt<strong>as</strong>, enquanto eu só observo <strong>as</strong> nuvens<br />
p<strong>as</strong>sarem pela janela do décimo quarto andar. Não estou tentando fazer jogo<br />
duro; só não tenho tido muit<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> ultimamente.<br />
Se <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> são ar, eu sou um pneu murcho.<br />
Ela me vem com um papo de que talvez eu seja introvertida e tenha uma<br />
personalidade rebelde, que vinha reprimindo até há pouco.<br />
Quando June me pergunta se é verdade que não gosto dos meus coleg<strong>as</strong> do<br />
colégio, penso: Parece que ela está perguntando se tenho dez dedos enquanto olha<br />
para minh<strong>as</strong> mãos ou se preciso capturar o ar pelo meu nariz ou pela boca enquanto<br />
me vê respirar.<br />
M<strong>as</strong> faço que sim com entusi<strong>as</strong>mo.<br />
Só para ser escrota, pergunto se psicólogos trabalham em alguma coisa ou se<br />
só sabem bater papo.<br />
— Vocês ficam contando para os outros <strong>as</strong> históri<strong>as</strong> ridícul<strong>as</strong> dos seus<br />
pacientes?<br />
Sem desviar o olhar, June diz que não vai perder tempo com joguinhos cuja<br />
intenção é apen<strong>as</strong> desviar do <strong>as</strong>sunto em questão. Ela parece descontente ao fim<br />
da nossa segunda sessão.<br />
Em nosso terceiro encontro, June me faz pergunt<strong>as</strong> sobre O ceifador de<br />
chicletes, um indicativo de que meus pais andam fornecendo pist<strong>as</strong> sobre mim