Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
nada a respeito. Ele precisava fingir que seus alunos eram jovens muito<br />
inteligentes e conscientes, destinados a se tornar adultos que ajudariam a<br />
construir um mundo melhor (uma ilusão necessária para quem acreditava no<br />
poder transformador da educação), e comecei a entender que devia ser difícil<br />
para um professor p<strong>as</strong>sar o final de semana inteiro corrigindo trabalhos e<br />
planejando aul<strong>as</strong> para um bando de adolescentes desesperados por sexo e álcool.<br />
— Sabe como a gente vê quais adolescentes se tornarão adultos alcoólatr<strong>as</strong> e<br />
alucinados por sexo? — Booker me contou certa vez. — Pelos pais deles.<br />
Ao ouvir isso, me lembrei do pai de Shannon, que todo mundo via enfiado<br />
no bar dia e noite, “dando em cima de qualquer criatura viva com um par de<br />
peitos”, segundo <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> dos meus pais. Ele tinha ganhado certa fama na<br />
cidade desde que fora trocado por uma mulher, e era como se estivesse tentando<br />
provar sua m<strong>as</strong>culinidade. As mães de Shannon também bebiam muito; muito<br />
vinho. Sempre que eu ia à c<strong>as</strong>a del<strong>as</strong> havia no mínimo uma garrafa aberta e taç<strong>as</strong><br />
chei<strong>as</strong>. Carol e Joyce deviam ter se envolvido quando os pais biológicos de<br />
Shannon ainda eram c<strong>as</strong>ados.<br />
Eu tinha uma ideia meio maluca de que, se não trans<strong>as</strong>se nem bebesse, isso<br />
significaria que meus pais não eram alcoólatr<strong>as</strong> nem alucinados por sexo.<br />
Quem sabe <strong>as</strong>sim eles continuariam c<strong>as</strong>ados e felizes.<br />
Quem sabe <strong>as</strong>sim minha mãe não odiaria o jeito de meu pai m<strong>as</strong>tigar, e quem<br />
sabe <strong>as</strong>sim meu pai volt<strong>as</strong>se a abraçá-la, como fazia quando eu era pequena.<br />
Eu sabia que não fazia sentido, m<strong>as</strong> pensar daquele jeito me ajudava.<br />
Era algo que eu podia fazer.<br />
E nem era difícil — até eu conhecer Alex.<br />
Ironicamente, ele nem parecia tão interessado em sexo. Eu já tinha ido a um<br />
bom número de fest<strong>as</strong> e conhecia <strong>as</strong> tendênci<strong>as</strong> sexuais dos garotos: que eles<br />
tentavam apressar <strong>as</strong> cois<strong>as</strong>, do mesmo jeito que ficavam batendo na porta do<br />
banheiro com a bexiga cheia de cerveja, gritando: “Anda logo, estou muito<br />
apertado!”, como se <strong>as</strong> garot<strong>as</strong> estivessem lixando <strong>as</strong> unh<strong>as</strong> ou lendo um livro lá<br />
dentro. Eu notava que às vezes eles se aproximavam demais da garota enquanto<br />
conversavam; que a mão deles ia parar sem querer n<strong>as</strong> cox<strong>as</strong> d<strong>as</strong> minh<strong>as</strong> coleg<strong>as</strong><br />
de time e que el<strong>as</strong> fingiam não reparar. Tinha visto até alguns ajeitarem o<br />
próprio genital durante <strong>as</strong> convers<strong>as</strong>, porque ficavam excitados, e <strong>as</strong> garot<strong>as</strong><br />
novamente fingiam não ver, embora tod<strong>as</strong> descrevessem paus nos mínimos<br />
detalhes quando não havia garotos por perto. E eu nunca havia me interessado<br />
por nada daquilo.