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Todas as Coisas Belas - Matthew Quick

Muito bom!

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não sei exatamente o quê. Ele fala sobre <strong>as</strong> oscilações da economia de outros<br />

países como <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> falam do tempo, e tenho a impressão de que a “economia<br />

global” é só mais uma história sem fim que os adultos contam para si mesmos.<br />

Entendo o princípio básico do mercado de ações, que é “compre em baixa e<br />

venda em alta”, m<strong>as</strong> só isso, embora meu pai já tenha tentado algum<strong>as</strong> vezes<br />

despertar meu interesse pelo meu portfólio de investimentos.<br />

Comecei a jogar futebol aos cinco anos. <strong>Tod<strong>as</strong></strong> <strong>as</strong> menin<strong>as</strong> do meu bairro<br />

faziam parte de um time chamado Dragões do Arco-Íris. Eu gostava de sentir o<br />

cheirinho da grama, de ficar ao ar livre e de comer laranja no intervalo da<br />

partida. Era legal porque todo mundo <strong>as</strong>sistia, e eu me divertia chutando a bola<br />

o mais forte que conseguia. Eu chutava com mais precisão do que <strong>as</strong> outr<strong>as</strong><br />

menin<strong>as</strong>, então acabava marcando qu<strong>as</strong>e todos os gols. P<strong>as</strong>sei a correr mais<br />

rápido também, e não tinha medo de cabecear, mesmo quando o treinador<br />

jogava a bola bem alto e todo mundo saía correndo. Eu sempre corria na direção<br />

da bola e a cabeceava sem esperar que caísse em mim.<br />

Então, meu pai criou uma brincadeira em que ele investia cem dólares no<br />

meu portfólio a cada chute a gol que eu tent<strong>as</strong>se. Quando eu era pequena, não<br />

fazia ideia do que era dinheiro, ações, nada, m<strong>as</strong> meu pai ficava maluco toda vez<br />

que eu marcava um gol. Ele se acabava de gritar e só faltava dar cambalhot<strong>as</strong>. Eu<br />

ria, porque me surpreendia: era muito raro meu pai sorrir, muito menos gritar e<br />

fazer dancinh<strong>as</strong>.<br />

Eu gostava de vê-lo se soltar daquele jeito.<br />

Sempre que eu fazia gol em alguma partida, a gente se sentava na frente do<br />

computador à noite, transferia o dinheiro da conta dele e aplicava na bolsa o que<br />

eu havia ganhado com os gols. Eu não me importava muito com <strong>as</strong> ações em si,<br />

principalmente porque não podia retirar nenhuma quantia e g<strong>as</strong>tar, então que<br />

graça teria? Gostava de ficar sentada no colo dele e ouvi-lo falar com entusi<strong>as</strong>mo<br />

sobre dinheiro. Algum<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> brincam de Jogo da Vida ou Macaco<br />

Equilibrista com os pais; eu brincava de Dow Jones e N<strong>as</strong>daq. Era <strong>as</strong>sim que<br />

eram <strong>as</strong> cois<strong>as</strong>.<br />

Meu pai trabalhava muito. À exceção de nossos jantares, eu só o encontrava<br />

nos di<strong>as</strong> de jogo, ou quando ele me chamava até o escritório para investir o<br />

dinheiro que eu ganhava com os gols. Como eu amava meu pai, tentava marcar<br />

o máximo de gols só para manter nossa relação viva.

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