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— No Natal, Alex deu a Nanette um monte de poem<strong>as</strong>. Um deles falava<br />
sobre como ele gostava de escapar pela janela e escalar o edifício até o telhado e<br />
dava a entender que ele não queria mais viver. Ele chamava a si mesmo de<br />
“dispensável”. Não contei a ninguém sobre o poema e ele morreu exatamente<br />
<strong>as</strong>sim. Subindo até o telhado. Ele caiu. Você acha que Nanette é culpada? Ela<br />
deveria ter avisado sobre aquele comportamento perigoso, talvez? Avisado o<br />
reformatório, ou o pai dele…<br />
— Você não tem nenhuma responsabilidade pela morte de Alex. É apen<strong>as</strong><br />
uma garota.<br />
Nanette suspira.<br />
— Então Nanette não é responsável legalmente?<br />
— Não, de jeito algum. Já conversou com seu psicólogo sobre isso?<br />
Nanette faz que sim.<br />
— E o que ele disse?<br />
— Ela disse o mesmo que você. Eu só queria uma segunda opinião. De<br />
alguém que não esteja sendo pago pelos meus pais.<br />
— Entendo.<br />
— Obrigada.<br />
— De nada.<br />
Nanette não tem forç<strong>as</strong> para dizer mais nada, nem para olhar para o gentil<br />
policial.<br />
Se alguém tivesse raptado e matado seu filho, Nanette não tem muita<br />
confiança de que conseguiria ser <strong>as</strong>sim tão amável, por isso ela se sente um lixo,<br />
embora saiba que deveria apen<strong>as</strong> valorizá-lo. E, por se sentir <strong>as</strong>sim, se sente ainda<br />
pior.<br />
Como transformar a tragédia em algo positivo?<br />
Ela não sabe o que fazer.<br />
O que fazer?<br />
Nanette se vira e vai embora.