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subir pela parede como uma aranha do tamanho de um ser humano até que seus<br />
dedos se cansam ou o sapato não consegue achar uma fresta em que se apoiar, e<br />
ele cai como uma estrela-do-mar e de repente… Puf! A mente de Alex é<br />
instantaneamente apagada, como um computador próximo demais a um ímã.<br />
Formatar.<br />
Nanette tenta não imaginar os destroços do corpo de Alex. Em seu filme<br />
mental, ele se parte em um milhão de pedacinhos, como um v<strong>as</strong>o de cristal, que<br />
ela recolhe com pá e v<strong>as</strong>soura para então lançá-los no ar, onde voltarão a ser<br />
estrel<strong>as</strong>. É uma poesia infantil que ela repete para si mesma, e a ajuda.<br />
June chama isso de processo de luto e insiste para que Nanette nunca, jamais,<br />
se sinta responsável pela morte de Alex. Nanette insiste na ideia de que teve uma<br />
premonição. Assim que leu o poema do Homem-Aranha, soube que aquilo seria<br />
o fim dele.<br />
— Isso não é premonição. É a identificação de um comportamento perigoso,<br />
como dizer que alguém que toda noite dirige bêbado pode morrer num acidente<br />
de carro. Ou que alguém que luta com crocodilos pode acabar morto por isso. O<br />
perigo nem era escalar a parede, m<strong>as</strong> o modo de Alex enxergar a vida. Se não<br />
fosse a agressão ou o alpinismo inconsequente, teria sido outra coisa.<br />
Nanette diz que deveria ter alertado alguém.<br />
— Você falou comigo — observa June.<br />
— M<strong>as</strong> você não fez nada para salvá-lo.<br />
— Alex não era minha responsabilidade, <strong>as</strong>sim como não era sua. Ele faria o<br />
que bem quisesse, não importando o que dissessem ou fizessem. Estava em um<br />
reformatório, teve uma segunda chance. Havia pesso<strong>as</strong> o vigiando. Ele escolheu<br />
isso. É triste, m<strong>as</strong> é a verdade.<br />
Nanette pondera se é tão simples <strong>as</strong>sim. Todos se dizem não responsáveis e<br />
lamentam muito e seguem com sua vida.<br />
O mais estranho é que Nanette não sente muita falta de Alex, porque ele se<br />
tornou uma espécie de conceito. Não esteve presente na vida dela nos últimos<br />
meses, e, para ser sincera, eles só p<strong>as</strong>saram uns dois meses juntos. Nanette<br />
conclui que viveu mais tempo com Wrigley do que com Alex Redmer.<br />
Em todo o país, em todo o mundo, adolescentes morrem todos os di<strong>as</strong>, e a<br />
Terra continua girando.<br />
Que diferença fazemos? Algum de nós importa?, pensa Nanette. Qual é o sentido<br />
da vida?<br />
Ela quer muito largar tudo — sentar-se sozinha em um tronco ou uma pedra,