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mesma o que foi isso que acabou de acontecer.<br />
Quando volta à sala, a primeira coisa que ouve é o pai perguntar:<br />
— Devemos nos preocupar com essa sua compra de brinquedos eróticos,<br />
agora que Alex voltou para sua vida?<br />
E a brincadeira perde toda a graça.<br />
— Alex não voltou à vida de Nanette. Hoje mesmo ele volta para o<br />
reformatório e ela só vai vê-lo de novo daqui a seis meses, ou talvez nunca mais.<br />
— Isso é uma eternidade para os padrões da adolescência, não é? — pergunta<br />
o pai.<br />
— O que tem nessa sacola? — quer saber a mãe.<br />
— Nada.<br />
Nanette se refugia em seu quarto para ler os textos de Alex, e só termina<br />
quando o Natal já está oficialmente encerrado.<br />
Quando os pais batem à porta e perguntam se está tudo bem, ela pede que a<br />
deixem sozinha, m<strong>as</strong> eles ainda tentam muit<strong>as</strong> batid<strong>as</strong> e pergunt<strong>as</strong> antes de<br />
finalmente atenderem o pedido.<br />
Nanette não dorme.<br />
Ela relê tudo divers<strong>as</strong> vezes.<br />
Nenhum dos escritos é uma carta propriamente dita, são apen<strong>as</strong> poem<strong>as</strong>,<br />
alguns hipnotizantes ou interessantes, todos crípticos.<br />
Eis os tem<strong>as</strong> e <strong>as</strong> imagens centrais na poesia de Alex: jaul<strong>as</strong>, chaves, tartarug<strong>as</strong>,<br />
pais, juventude, jipes, rebelião, o edifício Independence Hall, o Liberty Bell e “os<br />
bonitos” do reformatório, o que é irônico, uma vez que todos estão lá porque se<br />
rebelaram de alguma maneira. Seria de se esperar que ele fosse gostar de todos os<br />
“trancafiados”, m<strong>as</strong> os professores e os orientadores é que são os heróis dos<br />
poem<strong>as</strong>. Alex se refere a eles como “soldados da liberdade” e enumera muit<strong>as</strong><br />
lições aprendid<strong>as</strong> com eles durante seu progresso na “grade curricular autoral”,<br />
que parece girar em torno de A autobiografia de Malcolm X.<br />
Alex parece estar se escondendo atrás de metáfor<strong>as</strong>, analogi<strong>as</strong> e simbolismos, e<br />
Nanette queria que ele tivesse escrito cart<strong>as</strong> simples, que explic<strong>as</strong>sem tudo, em<br />
vez de entregar poem<strong>as</strong> que trazem emoções à tona, desafiam sua rapidez de<br />
pensamento e ainda <strong>as</strong>sim não explicam nada. Ela começa a temer que Alex seja<br />
um covarde e que a poesia às vezes seja usada como máscara pelos que não<br />
desejam ser vistos ou não querem revelar o que pensam de verdade. Quanto mais<br />
ela lê, mais acredita que Alex está enlouquecendo, m<strong>as</strong> mesmo <strong>as</strong>sim é inegável a<br />
elegância tecida naquel<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>. Ela pensa em Hamlet e em Ofélia, que fazia