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porque não consegue distinguir entre os meninos que o aterrorizam e Wrigley,<br />
que aterroriza os meninos.<br />
Talvez, depois de tant<strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong> ruins com humanos, a mão que o ajuda<br />
seja apen<strong>as</strong> mais uma.<br />
— Está tentando dizer que Alex não é diferente dos garotos que usam a<br />
violência para conseguir o que querem? — pergunto. — Isso eu já sei, porra.<br />
Não sou imbecil.<br />
Me tornei uma grande adepta de palavrões.<br />
Porra.<br />
Porra.<br />
Porra.<br />
Porra.<br />
Porra.<br />
— M<strong>as</strong> como você se sente, na condição de Ted Improdutivo? Nanette<br />
Improdutiva, por <strong>as</strong>sim dizer. Sua inteligência não está sendo questionada, e sim<br />
seus sentimentos. Eles são um pouco mais nebulosos, pelo menos para mim.<br />
Nebulosos.<br />
Imagino a mim mesma como uma galáxia distante e enevoada a se espreguiçar<br />
no céu noturno.<br />
— Me sinto girando de cost<strong>as</strong> no meu c<strong>as</strong>co há muitos anos. Completamente<br />
tonta. A vida parece um borrão, e o carrossel gira cada vez mais depressa. Às<br />
vezes mal consigo me segurar no cavalo. E quero morder tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> merd<strong>as</strong><br />
dess<strong>as</strong> mãos que ficam tentando me alcançar, porque não sei mais quais são bo<strong>as</strong><br />
e quais são ruins. Como se não existisse mais diferença entre bom e mau. Será<br />
que dá para entender?<br />
Isso nos leva a uma discussão sobre tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> muit<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> que já p<strong>as</strong>saram<br />
pela minha vida — a maioria não levou meus sentimentos em consideração ou<br />
“não percebe que, por baixo do ‘c<strong>as</strong>co’, Nanette é muito vulnerável”. E isso deve<br />
ser confuso para muit<strong>as</strong> del<strong>as</strong>, porque meu “c<strong>as</strong>co” é comprovadamente muito<br />
forte: ele me protegeu por dezoito anos, até rachar.<br />
— Dezoito anos é muito tempo — diz June. — Sua vida inteira. Talvez<br />
tenham deixado de prestar a devida atenção ao seu c<strong>as</strong>co, afinal, como <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong><br />
poderiam saber que ele não aguentaria para sempre? Acho que nem você sabia.<br />
Ou sabia?<br />
Eu não sabia. E rio dessa pequena epifania. Me faz bem. Gostei de como June<br />
transformou minha derrota em conquista usando nada além de palavr<strong>as</strong>. Pelo