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Todas as Coisas Belas - Matthew Quick

Muito bom!

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quando pedem que eu espere na antessala ao fim de cada sessão, porque eu<br />

mesma não mencionei uma única vez meu livro preferido. Aparentemente, June<br />

gostaria de ler O ceifador; fico surpresa, m<strong>as</strong> muito contente. É mais forte que eu,<br />

uma entusi<strong>as</strong>ta da boa literatura. E, como levo comigo a toda parte o exemplar<br />

que ganhei do sr. Graves, decidimos xerocar <strong>as</strong> duzent<strong>as</strong> e vinte e oito págin<strong>as</strong><br />

bem ali no consultório dela, violando <strong>as</strong> questões legais de direitos autorais com<br />

uma autêntica rebeldia enquanto a máquina pisca repetidamente e vira <strong>as</strong><br />

págin<strong>as</strong> replet<strong>as</strong> d<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> de um Booker muito jovem.<br />

Eu me divirto mais do que deveria, embora não saiba explicar bem por quê.<br />

Meu coração opera qu<strong>as</strong>e em fervor religioso. Pode a literatura ser minha<br />

religião? Será essa minha vocação, ser uma missionária da ficção? Talvez seja um<br />

ato revolucionário se comprometer com a verdadeira arte, como insinuou certa<br />

vez o sr. Graves. Booker pode não acreditar que a ficção exista, m<strong>as</strong> Nanette<br />

O’Hare, bem, ela acredita.<br />

Não sei como me vejo falando sobre Alex, contando tudo a June enquanto<br />

fazemos a cópia do exemplar. Meus pais desembolsam trezentos dólares para<br />

p<strong>as</strong>sarmos uma hora fazendo cópi<strong>as</strong> ilegais e discutindo minha vida amorosa.<br />

Será que isso realmente ajuda? Com sua disposição a ler O ceifador de chicletes,<br />

June ganhou um pouco do meu respeito. Fico pensando por que meus pais não<br />

pensaram em fazer isso. Concluo que seja porque eles não são rebeldes, e isso é<br />

parte do problema, embora ao mesmo tempo eu queira que eles sejam estáveis e<br />

comprometidos com o tão tradicional conceito de c<strong>as</strong>amento até que a morte os<br />

separe. A contradição não me p<strong>as</strong>sa despercebida.<br />

Na quarta sessão, June prova que leu a obra-prima de Booker quando me<br />

pergunta com qual dos personagens me identifico mais.<br />

— Wrigley? As crianç<strong>as</strong> que cutucam a tartaruga? Uma d<strong>as</strong> gême<strong>as</strong>? As hord<strong>as</strong><br />

de alunos? Os professores? Os pais? Ou talvez…<br />

— Ted Improdutivo — respondo sem hesitar. — Eu sou a tartaruga.<br />

— O que faz de Alex o seu Wrigley.<br />

— Ele com certeza acredita nisso, já que se empenhou tanto em copiar seu<br />

herói fictício.<br />

— E por que Ted Improdutivo morde Wrigley? Se você é a tartaruga, vai<br />

saber me dizer.<br />

Eu não tinha pensado nisso.<br />

E não sei se gosto de como essa metáfora está sendo empregada.<br />

No final do livro, Ted Improdutivo está tonto e confuso, sim, m<strong>as</strong> talvez

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