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desconforto pesa no ambiente.<br />
— Como você soube que estávamos dormindo juntos de novo? — pergunta a<br />
mãe. — Dá para ouvir de porta fechada?<br />
O pai deve perceber o olhar horrorizado de Nanette, porque vai em socorro<br />
da esposa:<br />
— Sua mãe está brincando.<br />
— Brincando uma ova — retruca a mãe, algemando o marido com a pelúcia<br />
rosa, o que provoca em Nanette grande repulsa e ao mesmo tempo grande<br />
divertimento, e a coisa só melhora quando o pai de Nanette aperta a coxa da mãe<br />
de Nanette.<br />
— Bom, isso quer dizer que vocês voltaram?<br />
O pai abraça a cintura da esposa.<br />
— O susto que você deu na gente… ou como quiser chamar… quer dizer,<br />
quando vimos que você… que você precisava de nós… nos reaproximamos<br />
b<strong>as</strong>tante. Cuidar de você nos deu um objetivo em comum, nos fez lembrar que<br />
existe algo maravilhoso entre nós. Afinal, você é fruto do nosso amor.<br />
Nanette tem um momento de clareza. Ela percebe que é mesmo o produto do<br />
amor dos pais e que por isso se preocupa tanto com o fim desse amor.<br />
— E eu superei o problema da m<strong>as</strong>tigação de boca aberta — acrescenta a<br />
mãe.<br />
— Estou me empenhando em mudar isso — diz o pai. — Você reparou?<br />
Então alguém bate à porta.<br />
Os três se entreolham.<br />
— Estão esperando alguém? — pergunta o pai.<br />
— Não — responde Nanette. — M<strong>as</strong> Nanette vai atender.<br />
Quando abre a porta, ela se vê diante de um garoto alto e magro e de cabeça<br />
r<strong>as</strong>pada. Ele usa um terno.<br />
— Gostei do seu jipe — diz o garoto. — M<strong>as</strong> talvez seja melhor levantar a<br />
capota. Está nevando um pouco aqui fora.<br />
Ela demora um pouco para visualizar mentalmente uma versão mais<br />
corpulenta e mais cabeluda do garoto.<br />
— Alex?<br />
— Versão magra, careca, engomadinha e regenerada. Os car<strong>as</strong> me fazem<br />
correr dez quilômetros todo dia… antes d<strong>as</strong> seis da manhã. Loucura. Por falar<br />
em loucura, só tenho quinze minutos. Meu pai está de olho em mim do outro<br />
lado da rua. — Alex se vira e acena, e um homem num sedã preto acena de