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— Já p<strong>as</strong>samos algum<strong>as</strong> vezes pela rua dela e ficamos de longe vendo Sandra<br />
cuidar do jardim. Ela tem um jardim incrível… com uma horta e tudo. No<br />
outono, os gir<strong>as</strong>sóis chegaram a dois metros de altura! E ela é bem ágil para a<br />
idade que tem, parece uma aranha se movimentando. Ficamos de olho nela para<br />
o velho Booker. É o mínimo que posso fazer depois de ele trocar tant<strong>as</strong> cart<strong>as</strong><br />
comigo e me incentivar tanto a escrever, me indicando um monte de livros. Ele<br />
me apresentou Larkin e Bukowski. É o melhor professor que já tive, mesmo sem<br />
ser exatamente meu professor. Tenho medo de estar errado e estragar tudo. De<br />
p<strong>as</strong>sar dos limites.<br />
De novo aquela expressão, “ultrap<strong>as</strong>sar um limite”, e novamente pensei no sr.<br />
Graves. Conhecer a Stella Thatch da vida real, conhecer mais um personagem de<br />
O ceifador de chicletes, era uma ideia qu<strong>as</strong>e irresistível — <strong>as</strong>sim como beijar o sr.<br />
Graves no Dia dos Namorados… será que eu não aprendia nunca? M<strong>as</strong> aquilo<br />
era diferente. Era por Booker, não por mim. Não era?<br />
— Então, qual é seu voto, Nanette? — perguntou Oliver. — É a hora da<br />
verdade.<br />
— Preciso pensar.<br />
— Maldito anticlímax! — exclamou Oliver.<br />
Bem nessa hora, a mãe dele reapareceu.<br />
— Oliver tem aula amanhã — disse ela, como se o garoto tivesse seis anos e<br />
não catorze.<br />
— Mãe!<br />
— Já estamos indo — disse Alex. — A gente se fala amanhã, Oliver.<br />
— Legal te conhecer, Nanette. É um prazer ter você no nosso time.<br />
— É um prazer fazer parte do time.<br />
Enquanto eu me despedia, vi no rosto de Oliver a mesma bondade que tinha<br />
visto muit<strong>as</strong> vezes no de Alex.<br />
Será que era aquilo que atraía os valentões? Será que eles tinham a necessidade<br />
de esmagar aquela bondade n<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>? Alex os chamava de “bonitos”, talvez<br />
para efeminá-los, ou talvez porque geralmente são os mais populares e, portanto,<br />
considerados os mais bonitos. Só que, para mim, beleza não é algo do que se<br />
envergonhar, e mesmo Oliver e Alex tinham uma suavidade no olhar e no sorriso<br />
que eu achava radiante. Podia não ser uma beleza sensual, m<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sava a sensação<br />
de que ficaria tudo bem, ainda que por apen<strong>as</strong> um ou dois segundos. O sr.<br />
Graves também tinha isso.<br />
Assim que entramos no carro, dei uma bronca em Alex: