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— Sim. Quer dizer, mais ou menos.<br />
— Eu nunca falei para você fazer isso! — vocifera Booker. — E também não<br />
disse para Alex escalar um prédio! Eu só escrevi uma história! Vocês não podem<br />
me responsabilizar por tudo que fazem depois de lerem meu livro!<br />
— Bem, seu livro mudou minha vida. E agora eu estou confusa, perdida e<br />
descalça com um vestido de festa, e não importa quem é o responsável!<br />
— A culpa não é minha!<br />
— O que faço agora… com a minha vida?<br />
— Como posso saber?<br />
— O que Wrigley fez? Depois que ele boiou no riacho no final do livro? O<br />
que acontece em seguida? Preciso muito saber. Você me deve isso.<br />
— O que você quer que eu diga?<br />
— A verdade!<br />
Booker suspira, baixa os olhos e diz calmamente:<br />
— Ele cresceu, Nanette. Teve muitos empregos que detestava. Frac<strong>as</strong>sou<br />
como escritor. Não teve sorte na vida nem no amor. Envelheceu. Encontrou<br />
Sandra no final. Tentou ajudar algum<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> ao longo do caminho. É isso.<br />
Nada muito digno de uma continuação da história, se é que me entende.<br />
— M<strong>as</strong> Wrigley fica bem depois que o livro acaba? Ele está bem agora?<br />
— Depende de quem vê.<br />
— Por que não me dá uma resposta direta?<br />
— Porque isso não existe. É o que se aprende quando crescemos. Ninguém<br />
sabe a resposta. Ninguém.<br />
Fico encarando Booker em silêncio por um bom tempo.<br />
É apen<strong>as</strong> um velho cheio de rug<strong>as</strong>.<br />
E está dizendo a verdade; ele realmente não tem <strong>as</strong> respost<strong>as</strong> de que preciso.<br />
Tudo que ele tinha a dizer está em O ceifador de chicletes, e não sobrou mais<br />
nada.<br />
Posso continuar faminta, m<strong>as</strong> isso não quer dizer que ele seja um bufê<br />
literário do qual eu possa me servir infinitamente.<br />
— Adeus — digo, e lhe dou <strong>as</strong> cost<strong>as</strong>.<br />
— Vamos jogar Scrabble mais tarde, é melhor você entrar. Acho que seus pés<br />
estão sangrando. Realmente seria melhor se deix<strong>as</strong>se a gente cuidar desses<br />
ferimentos. Nanette, não vá embora <strong>as</strong>sim. Por favor. Nanette!<br />
Continuo caminhando — sinto dor a cada p<strong>as</strong>so — e quando chego em c<strong>as</strong>a,<br />
mancando, conto aos meus pais, para choque deles, sobre o experimento que