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gross<strong>as</strong>, nariz torto… Só de olhar dá para ver que odiava a escola. Acho que a bio<br />
em branco diz tudo. O equivalente simbólico de mostrar o dedo para o time<br />
inteiro de futebol.<br />
— E ele guardou o anuário mesmo <strong>as</strong>sim.<br />
— Talvez tenha guardado para nós, Nanette.<br />
Era tentador acreditar naquilo; havia poesia na ideia. Como se, de repente, o<br />
universo conspir<strong>as</strong>se a nosso favor. M<strong>as</strong> também era deprimente. Em vida, Eddie<br />
Alva nem sabia da nossa existência. O fato de ter guardado o anuário escolar,<br />
sem nenhuma <strong>as</strong>sinatura, por cinco décad<strong>as</strong>, faz qualquer pessoa querer se<br />
encolher em posição fetal e chorar por ele. Eddie tivera um filho, então talvez<br />
houvesse conhecido o amor em algum momento da vida, tentei me consolar. Ao<br />
menos uma vez na vida tinha feito sexo, isso era certo. E talvez ele am<strong>as</strong>se os<br />
coleg<strong>as</strong> da escola a seu próprio jeito — um pouco como às vezes amamos os<br />
vilões d<strong>as</strong> históri<strong>as</strong> porque são parte essencial da trama. Talvez Eddie Alva tivesse<br />
isso, um grupo de coleg<strong>as</strong> que ocupava aquela parte de sua história pessoal. E isso<br />
me lembrou Shannon, de quem eu sentia falta, uma saudade meio melancólica,<br />
apesar da certeza de que não queria mais contato com ela. Provavelmente eu<br />
nunca deixaria de pensar nela e n<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> garot<strong>as</strong> do time. O Dragões do Arco-<br />
Íris sempre faria parte da minha psique, fosse de um jeito bom, ruim ou<br />
indiferente, e era <strong>as</strong>sim que eram <strong>as</strong> cois<strong>as</strong>. Foi aí que me toquei: era provável<br />
que nenhuma del<strong>as</strong> <strong>as</strong>sin<strong>as</strong>se meu anuário, porque já nem olhavam mais para<br />
mim, o que seria triste, m<strong>as</strong> de certa forma não me afetava.<br />
Quando entrei em c<strong>as</strong>a, encontrei minha mãe sentada no sofá.<br />
— Belo show.<br />
Engraçado: achei que ela estava orgulhosa. Por me ver crescendo, finalmente<br />
namorando, fazendo o que <strong>as</strong> garot<strong>as</strong> faziam na minha idade. O que ela fazia<br />
quando era líder de torcida na escola. E de repente ela mudou de <strong>as</strong>sunto, como<br />
se coloc<strong>as</strong>se uma faca no meu pescoço.<br />
— Seu pai saiu de c<strong>as</strong>a.<br />
— O quê?<br />
— Pois é.<br />
— Quando?<br />
— Faz um<strong>as</strong> três hor<strong>as</strong>. Surtou. Você perdeu.<br />
— Ele já foi?<br />
— Pode ligar para ele se quiser uma explicação.<br />
— Qual é a sua explicação?
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