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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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98 Eduard Hanslick<br />

animam essa mesma natureza. Não terá sido o suave rumor do riacho,<br />

o bater <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s do mar, o trovão <strong>da</strong>s avalanches, o fragor do furacão,<br />

a ocasião e o modelo <strong>da</strong> música humana? Na<strong>da</strong> terão a ver com a nossa<br />

índole musical todos os sons murmurantes, sibilantes e troantes? Temos,<br />

de facto, de responder com um não. To<strong>da</strong>s estas manifestações<br />

<strong>da</strong> natureza não passam de simples ruído e som, isto é, de vibrações do<br />

ar que se sucedem em intervalos de tempo irregulares. A natureza só<br />

muito raramente e, então, apenas de modo isolado produz um tom, isto<br />

é, um som de altura e profundi<strong>da</strong>de determina<strong>da</strong> e mensurável. Mas<br />

os sons são a condição fun<strong>da</strong>mental de to<strong>da</strong> a música. Embora estas<br />

expressões sonoras <strong>da</strong> natureza impressionem ain<strong>da</strong> o ânimo com tanta<br />

força e atracção, não constituem qualquer estádio rumo à música humana,<br />

mas são dela tão - só insinuações elementares. Mesmo a mais<br />

pura manifestação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sonora natural, o canto <strong>da</strong>s aves, não se encontra<br />

em qualquer relação com a música humana, pois é impossível<br />

ajustá - la à nossa escala. O fenómeno <strong>da</strong> harmonia natural, que é de<br />

todos os modos o único e incomovível fun<strong>da</strong>mento natural em que se<br />

apoiam as condições fulcrais <strong>da</strong> nossa música, deve também reduzir<br />

- se ao seu ver<strong>da</strong>deiro significado. A progressão harmónica produz -<br />

se espontaneamente na harpa eólica de cor<strong>da</strong>s iguais, fun<strong>da</strong> - se, pois,<br />

numa lei natural, mas nunca se ouve esse fenómeno produzido directamente<br />

pela natureza. Logo que num instrumento musical se pulsa<br />

um som fun<strong>da</strong>mental determinado e mensurável, não aparecem igualmente<br />

sons secundários simpáticos nem a progressão harmónica. O<br />

homem deve, portanto, questionar <strong>para</strong> que a natureza respon<strong>da</strong>. O<br />

fenómeno do eco explica - se ain<strong>da</strong> com maior facili<strong>da</strong>de. Surpreende<br />

que até escritores competentes não consigam libertar - se <strong>da</strong> ideia<br />

de uma genuína (apenas imperfeita) “música <strong>da</strong> natureza”. Inclusive<br />

Hand, de quem já anteriormente citámos de propósito exemplos que<br />

provam o seu discernimento correcto <strong>da</strong> essência incomensurável e musicalmente<br />

incapaz dos fenómenos sonoros naturais, aduz um capítulo<br />

inteiro “sobre a música <strong>da</strong> natureza”, cujos fenómenos acústicos deveriam<br />

também “de certo modo” chamar - se música. Assim também<br />

www.lusosofia.net<br />

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