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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 51<br />

de Mozart, que — sendo a natureza mais musical referi<strong>da</strong> pela história<br />

<strong>da</strong> arte — transformava em música tudo aquilo em que apenas tocasse.<br />

Oulibicheff vê também na Sinfonia em Sol menor a expressão exacta <strong>da</strong><br />

história de um amor apaixonado em quatro fases distintas. A Sinfonia<br />

em Sol menor é música, e na<strong>da</strong> mais. E isto é, em todo o caso, bastante.<br />

Nas obras musicais, não há que buscar a representação de determinados<br />

processos anímicos ou acontecimentos, mas sobretudo música, e<br />

saborear-se-á então puramente o que esta de modo integral proporciona.<br />

Onde falta o musicalmente belo, não poderá substitui-lo jamais<br />

a inoculação subtil de algum significado grandioso, e é inútil fazê-lo,<br />

quando aquele existe. De qualquer modo, imprime à concepção <strong>da</strong> música<br />

um rumo inteiramente errado. As mesmas pessoas que pretendem<br />

reivindicar <strong>para</strong> a música uma posição entre as revelações do espírito<br />

humano, que ela não ocupa nem jamais conseguirá, porque não é capaz<br />

de comunicar convicções — essas mesmas pessoas puseram também<br />

em voga o termo de “intenção”. Na arte sonora, não há “intenção” alguma,<br />

no sentido técnico em voga. O que não se patenteia não está aí<br />

na música, e o que chegou à manifestação deixou de ser simples intento.<br />

A expressão “tem intenções” emprega-se quase sempre com um<br />

propósito encomiástico; a mim ocorre-me antes uma censura que, verti<strong>da</strong><br />

<strong>para</strong> um vernáculo mais enxuto, rezaria mais ou menos assim: o<br />

artista, decerto, bem gostaria, mas não sabe. A arte, porém, nasce do<br />

saber, quem na<strong>da</strong> sabe. . . tem “intenções”.<br />

Assim como o belo de uma peça musical radica somente nas suas<br />

determinações musicais, assim também obedecem apenas a estas as<br />

leis <strong>da</strong> sua construção. Impera a este respeito uma grande quanti<strong>da</strong>de<br />

de opiniões oscilantes e erróneas, de que apenas uma aqui se aduzirá.<br />

É ela a teoria <strong>da</strong> sonata e <strong>da</strong> sinfonia, nasci<strong>da</strong> do modo de ver sentimental.<br />

O compositor, diz-se, teria de representar nos movimentos<br />

singulares <strong>da</strong> sonata quatro estados anímicos distintos entre si, mas conexos<br />

(como?) uns com os outros. Para justificar a ligação inegável<br />

dos movimentos e explicar o seu diverso efeito, obriga-se o ouvinte<br />

a atribuir-lhes, como conteúdo, determinados sentimentos. A inter-<br />

www.lusosofia.net<br />

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