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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 23<br />

tação do "sentimento <strong>da</strong> transitorie<strong>da</strong>de", do "sentimento <strong>da</strong> satisfação<br />

juvenil".<br />

Há ideias que são perfeitamente representa<strong>da</strong>s pela arte sonora e,<br />

apesar de tudo, não ocorrem como sentimento, tal como, ao invés, há<br />

sentimentos que podem agitar o ânimo de modo tão disperso que não<br />

encontram a sua representação adequa<strong>da</strong> em nenhuma ideia representável<br />

pela música.<br />

Por conseguinte, que é que a música pode representar dos sentimentos,<br />

se não expuser o seu conteúdo?<br />

Só o que neles há de dinâmico. Pode reproduzir o movimento de um<br />

processo físico segundo os momentos: depressa, devagar, forte, fraco,<br />

crescendo, decrescendo. Mas o movimento é apenas uma proprie<strong>da</strong>de,<br />

um momento do sentimento, não o próprio sentimento. Comummente,<br />

julga-se delimitar assaz a capaci<strong>da</strong>de representativa <strong>da</strong> música quando<br />

se afirma que ela de nenhum modo pode designar o objecto de um sentimento,<br />

mas o próprio sentimento, por exemplo, não o objecto de um<br />

amor determinado, mas o "amor". Na ver<strong>da</strong>de, também isso não consegue.<br />

Não pode descrever o amor, mas apenas um movimento que pode<br />

ocorrer no amor ou noutro afecto, e que é sempre o inessencial do seu<br />

carácter. "Amor"é um conceito abstracto, tal como "virtude"e "imortali<strong>da</strong>de".<br />

A asseveração dos teóricos de que a música não pode representar<br />

conceitos abstractos é supérflua, pois nenhuma arte de tal é capaz.<br />

É evidente que só as ideias, isto é, conceitos vivificados, podem ser o<br />

conteúdo <strong>da</strong> encarnação artística 1 . Mas as obras instrumentais também<br />

não podem representar as ideias do amor, <strong>da</strong> ira, do temor, porque não<br />

existe uma relação necessária entre aquelas ideias e as belas combinações<br />

sonoras. Qual é, pois, o momento dessas ideias de que a música<br />

sabe, na reali<strong>da</strong>de, tão eficazmente apoderar-se? É o movimento (decerto<br />

no sentido mais amplo que apreende como "movimento"também<br />

1 Vischer define (Aesthetik, §11 Nota) as ideias determina<strong>da</strong>s como domínios <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, sempre que se considere a sua reali<strong>da</strong>de como correspondente ao seu conceito.<br />

De facto, a ideia designa sempre o conceito presente, de modo puro e eficaz, na sua<br />

reali<strong>da</strong>de.<br />

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