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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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88 Eduard Hanslick<br />

tar <strong>da</strong> fantasia. Sem activi<strong>da</strong>de espiritual, não há em geral nenhuma<br />

fruição estética. Mas esta forma de activi<strong>da</strong>de espiritual é sobretudo<br />

própria <strong>da</strong> música, porque as suas obras não se apresentam irremovivelmente<br />

e de um golpe, antes se desdobram de modo sucessivo no<br />

ouvinte, exigindo dele, portanto, não uma contemplação que lhe permita<br />

uma demora e uma interrupção arbitrária, mas um acompanhamento<br />

incansável com a mais intensa atenção. Este acompanhamento,<br />

em composições complica<strong>da</strong>s, pode converter-se em trabalho intelectual.<br />

Como muitos indivíduos isolados, também há muitas nações que<br />

só com grande dificul<strong>da</strong>de se sujeitam a tal labor. O domínio exclusivo<br />

que, no canto, o soprano tem entre os Italianos fun<strong>da</strong>-se sobretudo<br />

na facili<strong>da</strong>de espiritual deste povo, <strong>para</strong> o qual é inalcançável a perseverante<br />

penetração com que os nórdicos gostam de seguir um tecido<br />

artificioso de entrosamentos harmónicos e contrapontísticos. Os ouvintes<br />

cuja activi<strong>da</strong>de espiritual é escassa conseguem uma fruição mais<br />

fácil, e semelhantes musicómanos podem consumir porções de música<br />

perante as quais recuaria aterrado o espírito artístico.<br />

O momento espiritual necessário em to<strong>da</strong> a fruição musical revelarse-á<br />

activo em vários ouvintes de uma mesma obra musical em graus<br />

muito diversos; em naturezas sensuais e sentimentais, pode reduzirse<br />

a um mínimo; em personali<strong>da</strong>des predominantemente espirituais,<br />

pode tornar-se o elemento decisivo. O ver<strong>da</strong>deiro “justo meio” terá<br />

aqui, segundo o nosso juízo, de tender um tanto quanto <strong>para</strong> a direita.<br />

Para ficar inebriado basta apenas a debili<strong>da</strong>de, mas existe uma arte do<br />

ouvir 25 .<br />

25 Correspondia de todo ao temperamento fanaticamente dissoluto de W. Heinse<br />

a omissão <strong>da</strong> beleza musical determina<strong>da</strong>, em prol <strong>da</strong> vaga impressão sentimental.<br />

Chega (em Hildegard von Hohenthal) ao ponto de dizer: “A ver<strong>da</strong>deira música persegue<br />

em to<strong>da</strong> a parte o fim de transferir <strong>para</strong> os ouvintes o sentido <strong>da</strong>s palavras e <strong>da</strong><br />

sensação, de modo tão fácil e agradável que ela (a música) não se nota. Se tal música<br />

perdura eternamente, é tão natural que não se dá por ela, mas apenas passa o sentido<br />

<strong>da</strong>s palavras.”<br />

<strong>Um</strong>a percepção estética <strong>da</strong> música, porém, tem lugar no caso contrário, quando<br />

ela se “nota” perfeitamente, quando se lhe presta atenção e se tem imediatamente<br />

consciência de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s suas belezas. Heinse, a cujo naturalismo genial não<br />

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