Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 109<br />
dividualmente determinado; o pintor e o escultor, pelo contrário, mostram<br />
um ancião com dois rapazes (com esta determina<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de, este<br />
aspecto, esta indumentária, etc.), cingidos pela terrível serpente, com<br />
expressão, atitude e gestos que expressam a tortura <strong>da</strong> morte iminente.<br />
Lessing na<strong>da</strong> diz do músico. É inteiramente compreensível, porque este<br />
na<strong>da</strong> pode fazer desse Laocoonte.<br />
Já apontámos a estreita relação entre o conteúdo <strong>da</strong> arte sonora e a<br />
sua posição perante o belo natural. O músico não de<strong>para</strong>, <strong>para</strong> a sua<br />
arte, com modelo algum que garante às outras artes a determini<strong>da</strong>de e a<br />
cognoscibili<strong>da</strong>de do seu conteúdo. <strong>Um</strong>a arte que carece do belo natural<br />
como modelo será, em sentido genuíno, incorpórea. Em nenhum lado<br />
vem ao nosso encontro o modelo originário <strong>da</strong> sua forma de manifestação,<br />
por isso, está ausente no âmbito dos nossos conceitos reunidos.<br />
Não repete nenhum objecto já conhecido e nomeado, portanto não tem<br />
um conteúdo denominável <strong>para</strong> o nosso pensar ajustado a conceitos<br />
definidos.<br />
Em rigor, só pode falar-se do conteúdo de uma obra de arte quando<br />
a uma forma se opõe tal conteúdo. Por conseguinte, os conceitos de<br />
“conteúdo e de “forma” condicionam-se e complementam-se entre si.<br />
Onde não surge uma forma que o pensamento possa se<strong>para</strong>r de um<br />
conteúdo, também não existe qualquer conteúdo autónomo. Mas, na<br />
música, vemos o conteúdo e a forma, o tema e a configuração, a imagem<br />
e a ideia confundidos numa uni<strong>da</strong>de obscura e indivisível. A esta<br />
peculiari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> arte sonora, em que a forma e o conteúdo são inseparáveis,<br />
contrapõem-se abruptamente a poesia e as artes plásticas, as quais<br />
podem representar de forma diversa o mesmo pensamento, o mesmo<br />
acontecimento. Da história de Guilherme Tell fez Florian um romance<br />
histórico, Schiller um drama, e Goethe começou a elaborá-la como epopeia.<br />
O conteúdo é em to<strong>da</strong> a parte o mesmo, susceptível <strong>da</strong> exposição<br />
em prosa, de ser narrado e reconhecido; a forma é diferente. A Afrodite<br />
que emerge do mar é o conteúdo análogo de inúmeras obras de<br />
arte pinta<strong>da</strong>s e esculpi<strong>da</strong>s, que se não podem confundir devido à forma<br />
distinta. Na música, não existe um conteúdo frente à forma, porque<br />
www.lusosofia.net<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐