Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 49<br />
se ao mesmo tempo com esta harmonia, com este ritmo e este timbre.<br />
O conteúdo espiritual só corresponde ao conjunto de todos eles, e a<br />
mutilação de um membro lesa também a expressão dos restantes. O<br />
predomínio <strong>da</strong> melodia, <strong>da</strong> harmonia ou do ritmo favorece o todo, e só<br />
o pe<strong>da</strong>ntismo pode encontrar aqui todo o espírito nos acordes e, além,<br />
to<strong>da</strong> a triviali<strong>da</strong>de na sua ausência. A camélia nasce sem odor, o lírio<br />
sem cor, a rosa é esplêndi<strong>da</strong> <strong>para</strong> ambos os sentidos – na<strong>da</strong> pode<br />
transferir-se – e, no entanto, ca<strong>da</strong> uma dessas flores é bela!<br />
A "fun<strong>da</strong>mentação filosófica <strong>da</strong> música"deveria, pois, in<strong>da</strong>gar primeiro<br />
que especificações espirituais imprescindíveis estão liga<strong>da</strong>s a<br />
ca<strong>da</strong> elemento musical e como entre si se conectam. A dupla exigência<br />
de um esqueleto estritamente científico e de uma casuística superabun<strong>da</strong>nte<br />
tornam esta tarefa muito difícil, embora dificilmente insuperável,<br />
a não ser que se vise o ideal de uma ciência musical "exacta", segundo<br />
o modelo <strong>da</strong> química ou <strong>da</strong> fisiologia!<br />
O modo como o acto <strong>da</strong> criação ocorre no compositor proporcionanos<br />
a visão mais segura <strong>da</strong> peculiari<strong>da</strong>de do princípio <strong>da</strong> beleza musical.<br />
Esta activi<strong>da</strong>de criadora é inteiramente analítica. <strong>Um</strong>a ideia musical<br />
nasce primitivamente na fantasia do compositor, que a vai elaborando<br />
– formam-se e agregam-se mais e mais cristais –, até que insensivelmente<br />
se encontra diante dele a figura do produto integral nas<br />
suas formas principais, e deve acrescentar apenas a realização artística,<br />
provando, medindo, modificando. O compositor não pensa na representação<br />
de um conteúdo determinado. Se o fizer, põe-se num ponto<br />
de vista equivocado, mais ao lado do que no interior <strong>da</strong> música. A sua<br />
composição torna-se então a tradução de um programa em sons que,<br />
sem tal programa, ficam incompreensíveis. Não desconhecemos nem<br />
subestimamos o talento extraordinário de Berlioz, ao pronunciar o seu<br />
nome neste lugar.<br />
Assim como do mesmo mármore um escultor obtém formas encantadoras<br />
e outro uma obra rude e desajeita<strong>da</strong>, assim a escala em mãos diferentes<br />
se transforma numa sinfonia de Beethoven ou noutra de Verdi.<br />
Que é que distingue as duas? Será, porventura, que uma representa sen-<br />
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