Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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96 Eduard Hanslick<br />
que canta sem papas na língua mas, <strong>para</strong> que tal fosse possível, teve de<br />
prosperar a sementeira de séculos.<br />
Analisa<strong>da</strong>s assim as componentes elementares necessárias <strong>da</strong> música,<br />
chegamos à conclusão de que o homem não aprendeu <strong>da</strong> natureza<br />
envolvente como fazer música. A história <strong>da</strong> arte dos sons ensina-nos<br />
de que modo e em que ordem se formou o nosso actual sistema tonal.<br />
Temos de pressupor esta demonstração e asseverar apenas que o seu<br />
resultado, que a melodia e a harmonia, que as nossas relações de intervalos<br />
e a escala, a divisão nos modos maior e menor segundo a diferente<br />
posição do meio tom, por fim, o temperamento indecidido sem o qual a<br />
nossa música (europeo-ocidental) seria impossível, são criações lenta e<br />
paulatinamente nasci<strong>da</strong>s do espírito humano. A natureza só proporcionou<br />
ao homem os órgãos e o prazer de cantar, além <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de <strong>para</strong><br />
formar, a pouco e pouco, um sistema tonal baseado nas relações mais<br />
simples. Só estas condições simplicíssimas (acorde perfeito, progressão<br />
harmónica) perdurarão como pilares inamovíveis de to<strong>da</strong> a futura<br />
estruturação. – Há que resguar<strong>da</strong>r-se <strong>da</strong> confusão segundo a qual este<br />
sistema tonal (actual) residiria na natureza. A experiência de que até<br />
certos naturalistas manipulam hoje em dia as relações musicais, inconscientemente<br />
e com facili<strong>da</strong>de, como se fossem forças inatas e evidentes<br />
em si mesmas, de nenhum modo imprime às leis musicais imperantes<br />
o selo de leis naturais; isso é já uma consequência <strong>da</strong> cultura musical<br />
enormemente difundi<strong>da</strong>. Hand observa de modo inteiramente correcto<br />
que, por isso mesmo, os nossos filhos no berço já cantam melhor do<br />
que os selvagens adultos. “Se a sucessão de sons <strong>da</strong> música estivesse<br />
já pronta na natureza, todos os homens cantariam e sempre de modo<br />
justo” 27 .<br />
Quando ao nosso sistema tonal se chama “artificial”, não se utiliza<br />
este termo no sentido refinado de uma invenção convencional arbitrária.<br />
27 Hand, Aesth. d. T. I, 50. Também ali sublinha oportunamente que os Galeses<br />
na Escócia partilham com os povos indianos e chineses a falta <strong>da</strong> quarta e <strong>da</strong> sétima,<br />
sendo, pois, a seguinte a sua escala de sons: dó, ré, mi, sol, lá, dó. Entre os Patagónios<br />
<strong>da</strong> América do Sul, corporalmente muito desenvolvidos, não se encontra o menor<br />
indício de música ou canto.<br />
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