Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 55<br />
a diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> expressão <strong>da</strong>s diversas obras e escolas se fun<strong>da</strong> numa<br />
posição radicalmente diversa dos elementos musicais; e, segundo, que<br />
o que com razão agra<strong>da</strong> numa composição, seja a mais severa fuga de<br />
Bach ou o mais sonhador nocturno de Chopin, é musicalmente belo.<br />
Menos ain<strong>da</strong> do que o clássico, o “belo musical” pode coincidir<br />
com o arquitectónico, que se lhe ajusta como um ramo. A rígi<strong>da</strong> sublimi<strong>da</strong>de<br />
de figuração pesa<strong>da</strong>mente aglomera<strong>da</strong>, o entrosamento artístico<br />
de muitas vozes, <strong>da</strong>s quais nenhuma é livre e independente porque<br />
to<strong>da</strong>s o são, tem a sua justificação imperecível. No entanto, essas<br />
pirâmides de vozes magnificamente sombrias dos antigos italianos e<br />
holandeses são apenas um pequeno ponto no âmbito <strong>da</strong> beleza musical,<br />
tal como os muitos saleiros e candelabros de prata graciosamente<br />
elaborados do venerável Sebastian Bach.<br />
Muitos estetas consideram que o agrado produzido pelo regular e<br />
simétrico basta <strong>para</strong> explicar a fruição musical, quando, na reali<strong>da</strong>de,<br />
nunca em tal consistiu o belo, e menos ain<strong>da</strong> o belo musical. O tema de<br />
pior gosto pode estar estruturado com uma simetria perfeita. “Simetria”<br />
é apenas um conceito de relação, e deixa em aberto a pergunta: “Que é<br />
o que aqui surge como simétrico? – poderá demonstrar-se precisamente<br />
nas piores composições a disposição regular de partículas insípi<strong>da</strong>s e<br />
esmoí<strong>da</strong>s. O sentido musical exige sempre novas formações simétricas.<br />
Por último, Oerstedt elaborou <strong>para</strong> a música a concepção platónica<br />
no exemplo do círculo, <strong>para</strong> o qual vindicava a beleza positiva. Nunca<br />
terá experimentado a atroci<strong>da</strong>de de uma composição em si perfeitamente<br />
circular?<br />
É talvez mais prudente do que necessário acrescentar, por último,<br />
que a beleza musical na<strong>da</strong> tem a ver com o matemático. A concepção<br />
que os leigos (entre eles também escritores sensíveis) têm do papel<br />
que a matemática desempenha na composição musical é surpreendentemente<br />
vaga. Não satisfeitos por as vibrações dos sons, a distância dos<br />
intervalos, o consonar e dissonar, se poderem reduzir a relações matemáticas,<br />
estão convencidos de que também o belo de uma composição<br />
se fun<strong>da</strong> em números. O estudo <strong>da</strong> doutrina <strong>da</strong> harmonia e do contra-<br />
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