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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 71<br />

consequência desta comoção nervosa, já que as paixões não só provocariam<br />

certas modificações corporais, mas estas, por seu turno, seriam<br />

capazes de gerar as paixões correspondentes.<br />

Segundo esta teoria, a que (sob a presidência do inglês Webb) se<br />

atêm Nicolai, Schneider, Lichtenthal, J.J. Engel, Sulzer e outros, não<br />

seríamos movidos pela música de modo diverso como o são porventura<br />

as nossas janelas e portas, que começam a estremecer com uma música<br />

forte. Para apoio, aduzem exemplos, como o do criado de Boyle, cujos<br />

dentes começavam a sangrar logo que ouvia afiar uma serra ou o de<br />

muitas pessoas que sofrem convulsões, ao ouvirem riscar um vidro com<br />

a ponta de uma navalha.<br />

Mas isto não é música. O facto de ela partilhar o mesmo substrato,<br />

o som, com esses fenómenos que tão intensamente afectam os nervos,<br />

será importante <strong>para</strong> ulteriores deduções, mas aqui importa – em oposição<br />

a um modo de ver materialista – destacar apenas que a arte sonora<br />

só começa onde terminam aqueles efeitos sonoros isolados; de resto, a<br />

melancolia em que um adágio pode mergulhar o ouvinte também não<br />

pode com<strong>para</strong>r-se com a sensação corporal de uma agu<strong>da</strong> dissonância.<br />

A outra metade dos nossos autores (entre eles Kausch e a maioria<br />

dos estetas) explica os efeitos terapêuticos <strong>da</strong> música a partir <strong>da</strong> vertente<br />

psicológica. A música – assim argumentam eles – suscita afectos<br />

e paixões na alma, os afectos têm por consequência movimentos violentos<br />

no sistema nervoso, estes movimentos impetuosos no sistema<br />

nervoso originam uma reacção saudável no organismo enfermo. Este<br />

raciocínio, cujos saltos não é sequer preciso assinalar, é defendido tenazmente<br />

pela menciona<strong>da</strong> escola “psicológica” contra a anterior escola<br />

materialista que, sob a autori<strong>da</strong>de do inglês Whytt, nega até, contra<br />

to<strong>da</strong> a fisiologia, a conexão entre o nervo acústico e os demais nervos,<br />

tornando-se assim impossível uma transmissão corpórea do estímulo<br />

recebido pelo ouvido ao organismo global.<br />

A ideia de suscitar na alma, mediante a música, determinados afectos<br />

como amor, melancolia, ira, arrebatamento, que curariam o corpo<br />

mediante a excitação benéfica, não soa mal de todo. Mas ocorre-nos<br />

www.lusosofia.net<br />

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