Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 27<br />
dos, <strong>para</strong> proporcionar sub-repticiamente solidez a uma teoria, então<br />
esta é falsa. <strong>Um</strong> barco afun<strong>da</strong>r-se-á, logo que tenha ain<strong>da</strong> que seja um<br />
só rombo.<br />
A quem tal não bastar, poderá, ao fim e ao cabo, abalar-lhe todo<br />
o fun<strong>da</strong>mento. Toque o tema de qualquer sinfonia de Mozart ou de<br />
Haydn, de um adágio de Beethoven, de um scherzo de Mendelssohn,<br />
de uma peça <strong>para</strong> piano de Schumann ou Chopin, o tronco <strong>da</strong> nossa música<br />
mais significativa; ou também os motivos mais populares <strong>da</strong>s aberturas<br />
de Auber, <strong>Do</strong>nizetti, Flotow. Quem se aproximará e ousará assinalar<br />
um sentimento determinado como conteúdo destes temas? <strong>Um</strong><br />
dirá "amor". É possível. Outro opina "nostalgia". Talvez. O terceiro<br />
sente "recolhimento". Ninguém tal consegue refutar. E assim sucessivamente.<br />
Mas pode dizer-se que se representa um sentimento determinado<br />
quando ninguém sabe o que, em rigor, é representado? A propósito<br />
<strong>da</strong> beleza ou belezas de uma peça musical todos, provavelmente,<br />
pensarão de modo conforme, mas ca<strong>da</strong> qual tem uma opinião distinta<br />
acerca do conteúdo. Representar, porém, significa produzir clara e intuitivamente<br />
um conteúdo, pô-lo diante dos nossos olhos. Como pode<br />
então considerar-se o representado por uma arte aquilo que, enquanto<br />
seu elemento mais incerto e ambíguo, está submetido a uma eterna disputa?<br />
Escolhemos intencionalmente movimentos instrumentais como exemplos.<br />
De facto, só o que se pode afirmar acerca <strong>da</strong> música instrumental<br />
vale <strong>para</strong> a arte sonora como tal. Quando se investiga qualquer peculiari<strong>da</strong>de<br />
geral <strong>da</strong> música, algo que caracterize a sua essência e a sua natureza,<br />
que determine os seus limites e a sua orientação, só pode falar-se<br />
<strong>da</strong> música instrumental. <strong>Do</strong> que a música instrumental não consegue<br />
jamais se pode dizer que a música o consegue; pois só ela é a arte dos<br />
sons pura, absoluta. Mas se preferirmos a música vocal ou a instrumental<br />
pelo seu valor e efeito – um procedimento acientífico, no qual quase<br />
sempre tem a palavra o arbítrio superficial – deverá admitir-se sempre<br />
que o conceito de "arte sonora"não desabrocha puramente numa peça<br />
musical composta sobre um texto. Numa composição vocal, a eficácia<br />
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