Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 101<br />
ser que tenha visto e estu<strong>da</strong>do os modelos correspondentes na natureza<br />
ou, graças a tradições correctas, os tenha animado na sua fantasia ao<br />
ponto de substituir a intuição imediata 31 .<br />
Se confrontarmos a música com estas artes, reconhecemos que ela<br />
não de<strong>para</strong> em parte alguma com um modelo, um material, <strong>para</strong> as suas<br />
obras.<br />
Não há nenhum belo natural <strong>para</strong> a música.<br />
Esta diferença entre a música e as restantes artes (só a arquitectura<br />
não encontra também modelo algum na natureza) é profun<strong>da</strong> e de<br />
grandes consequências.<br />
A criação do pintor e do poeta é um contínuo copiar (interior ou<br />
efectivo), um reproduzir formas – na natureza não há uma imitação<br />
musical. A natureza não conhece sonatas, aberturas, rondós, mas sim<br />
paisagens, quadros de género, idílios, tragédias. A sentença aristotélica<br />
acerca <strong>da</strong> imitação <strong>da</strong> natureza na arte, que era ain<strong>da</strong> corrente entre<br />
os filósofos do século passado, foi há muito rectifica<strong>da</strong> e, torna<strong>da</strong> lugar<br />
comum até ao desgaste, não requer aqui uma discussão ulterior. A<br />
arte não deve copiar servilmente a natureza, deve transformá-la. A expressão<br />
mostra já que, antes <strong>da</strong> arte, deve existir algo que se remodele.<br />
Tal é justamente o modelo proporcionado pela natureza, o belo natural.<br />
O pintor sente-se coagido à representação artística do preexistente por<br />
uma paisagem graciosa, por um grupo, por um poema; o poeta, por um<br />
acontecimento histórico, por uma vivência. Em que contemplação <strong>da</strong><br />
natureza poderia, porém, o compositor alguma vez exclamar: eis um<br />
esplêndido modelo <strong>para</strong> uma abertura, uma sinfonia? O compositor<br />
na<strong>da</strong> pode refundir, deve criar tudo de novo. O que o pintor, o poeta,<br />
encontra na contemplação do belo natural tem o compositor de o elaborar<br />
mediante a concentração no seu íntimo. Tem de esperar a hora<br />
propícia em que nele algo começa a cantar e a ressoar; mergulhará en-<br />
31 Nestas determinações gerais seguimos os excelentes capítulos de Vischer sobre<br />
o belo natural, no segundo volume <strong>da</strong> sua Estética. Nesta obra, ain<strong>da</strong> não chegou à<br />
música.<br />
www.lusosofia.net<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐