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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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94 Eduard Hanslick<br />

tivas – encontram-se numa dupla relação com a natureza ambiente. Em<br />

primeiro lugar, pelo material bruto e corpóreo a partir do qual criam,<br />

em segui<strong>da</strong>, pelo conteúdo de beleza com que de<strong>para</strong>m <strong>para</strong> a elaboração<br />

artística. Em ambos os pontos, a natureza comporta-se perante<br />

as artes como a dispensadora maternal do primeiro e mais importante<br />

dote. Vale a pena tentar rever de passagem este equipamento no interesse<br />

<strong>da</strong> estética musical e examinar o que a natureza, cujos dons são<br />

razoáveis e, por isso, desiguais, fez em prol <strong>da</strong> arte sonora.<br />

Se in<strong>da</strong>garmos até que ponto a natureza proporciona matéria <strong>para</strong><br />

a música, depreende-se que ela o fez apenas no ínfimo sentido do material<br />

bruto, que o homem força a emitir sons. O metal mudo <strong>da</strong>s montanhas,<br />

a madeira do bosque, a pele dos animais e as suas tripas, eis<br />

tudo o que encontramos <strong>para</strong> pre<strong>para</strong>r o genuíno material de construção<br />

<strong>da</strong> música: o som puro. Recebemos, pois, em primeiro lugar, só<br />

material <strong>para</strong> o material: este último é o som puro, determinado segundo<br />

a altura e a profundi<strong>da</strong>de, isto é, o som susceptível de medi<strong>da</strong>.<br />

Ele é a primeira e indispensável condição de to<strong>da</strong> a música. Esta última<br />

configura-o em melodia e harmonia, os dois factores fulcrais <strong>da</strong><br />

arte sonora. Nenhuma delas se encontra na natureza, são criações do<br />

espírito humano.<br />

Na natureza não encontramos sequer nos seus mais pobres começos<br />

a sucessão ordena<strong>da</strong> de sons mensuráveis a que <strong>da</strong>mos o nome de<br />

melodia; os seus fenómenos sonoros sucessivos carecem de proporção<br />

compreensível e subtraem-se à redução à nossa escala. Mas a melodia,<br />

<strong>para</strong> falar com Krüger, é “o ponto crucial”, a vi<strong>da</strong>, a primeira figura<br />

artística do reino dos sons, a que se liga to<strong>da</strong> a ulterior determini<strong>da</strong>de,<br />

to<strong>da</strong> a apreensão do conteúdo.<br />

Assim como ignora a melodia, a natureza, esta grandiosa harmonia<br />

de todos os fenómenos, desconhece também a harmonia na acepção<br />

musical, como consonância de sons determinados. Já alguém ouviu<br />

na natureza um acorde perfeito, um acorde de sexta ou de sétima? Tal<br />

como a melodia, também a harmonia (só que em progressão muito mais<br />

lenta) foi um produto do espírito humano.<br />

www.lusosofia.net<br />

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