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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 111<br />

e conserva a forma mediante a transposição, já que as contradições,<br />

neste modo de ver, se duplicariam e o ouvinte deveria logo replicar que<br />

reconhece um conteúdo que lhe é familiar, e que só “ressoa diferente”.<br />

Em composições inteiras, a saber, de maior extensão, costuma decerto<br />

falar-se <strong>da</strong> sua forma e do seu conteúdo. Mas, então, não se empregam<br />

estes conceitos no seu sentido lógico originário, antes se lhes<br />

atribui já um significado especificamente musical. Chama-se “forma”<br />

de uma sinfonia, de uma abertura ou sonata à arquitectura <strong>da</strong>s particulari<strong>da</strong>des<br />

e grupos entrelaçados de que consta a peça musical; mais<br />

precisamente, a simetria destas partes na sua sucessão, contrastação,<br />

repetição e elaboração. Por conteúdo entendem-se então os temas elaborados<br />

<strong>para</strong> semelhante arquitectura. Aqui, pois, já não se fala de<br />

um conteúdo como “objecto”, mas simplesmente de um conteúdo musical.<br />

Por isso, em peças musicais inteiras, utilizam-se os termos de<br />

“conteúdo” e “forma” num sentido artístico, e não puramente lógico;<br />

se quisermos afixar este ao conceito <strong>da</strong> música, não devemos operar<br />

numa obra de arte integral, portanto, composta, mas no seu cerne derradeiro,<br />

esteticamente indivisível. Tal é o tema ou os temas. Nestes,<br />

em nenhum sentido se podem se<strong>para</strong>r forma e conteúdo. Se a alguém<br />

se pretender expor o “conteúdo” de um motivo, há que tocar-lhe o próprio<br />

motivo. Portanto, o conteúdo de uma obra musical nunca pode<br />

apreender-se objectivamente, mas só de modo musical, a saber, como<br />

o que ressoa concretamente em ca<strong>da</strong> peça musical. Visto que a composição<br />

obedece a leis de beleza formais, o seu decurso não se improvisa<br />

num divagar arbitrário e sem plano, mas desenvolve-se numa gra<strong>da</strong>ção<br />

organicamente conspícua, como abun<strong>da</strong>ntes flores a partir de um<br />

só botão.<br />

Tal é o tema principal – o ver<strong>da</strong>deiro material e o conteúdo <strong>da</strong> criação<br />

musical íntegra. Tudo nela é consequência e efeito do tema, por<br />

este condicionado e configurado, por ele governado e levado a efeito.<br />

Eis o axioma autónomo que momentaneamente satisfaz, é certo, mas<br />

que o nosso espírito quer ver discutido e desenvolvido – o que acontece<br />

no desenvolvimento musical, análogo a um desenvolvimento lógico.<br />

www.lusosofia.net<br />

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