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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 91<br />

lógico não devem impedir que a crítica distinga em to<strong>da</strong> a parte o que<br />

num efeito presente é artístico ou elementar. A contemplação estética<br />

nunca deve conceber a música como causa, mas sempre como efeito,<br />

não como produtor mas como produto.<br />

Com a mesma frequência que o efeito elementar <strong>da</strong> música, confundese<br />

com a própria arte sonora o seu elemento harmónico geral, que<br />

conserva a medi<strong>da</strong> e proporciona quietude e movimento, dissonância<br />

e concordância. No estado actual <strong>da</strong> música e <strong>da</strong> filosofia, não nos<br />

podemos permitir, no interesse de ambas, a extensão do conceito “música”,<br />

segundo o exemplo dos antigos Gregos, a to<strong>da</strong> a ciência e arte,<br />

bem como ao alinho e à formação de to<strong>da</strong>s as forças anímicas. A famosa<br />

apologia <strong>da</strong> música no Mercador de Veneza (V, l) 26 baseia-se em<br />

semelhante confusão <strong>da</strong> própria música com o espírito dominante <strong>da</strong><br />

beleza sonora, a consonância <strong>da</strong> medi<strong>da</strong>. Em semelhantes passagens,<br />

poderia em geral substituir-se, sem muita alteração, a palavra “música”<br />

pelos termos de “poesia”, "arte"e até “beleza”. Que a música costume<br />

sobressair <strong>da</strong> série <strong>da</strong>s artes deve-o ela ao poder ambíguo <strong>da</strong> sua populari<strong>da</strong>de.<br />

Também tal atestam os versos subsequentes do referido<br />

monólogo, onde muito se enaltece o poder domesticador dos sons nas<br />

bestas, portanto, a música surge, uma vez mais, como domadora de<br />

animais.<br />

Os exemplos mais instrutivos surgem nas “explosões musicais” de<br />

Bettina, como Goethe galantemente designou as suas cartas sobre música.<br />

Como o ver<strong>da</strong>deiro protótipo de todo o fanatismo vago acerca<br />

<strong>da</strong> música, Bettina revela quão inadequado é poder alargar o conceito<br />

desta arte <strong>para</strong> dela, com gosto, se precipitar a discorrer. Com a pretensão<br />

de falar sobre a própria música, refere-se sempre à influência<br />

obscura que ela exerce sobre o seu ânimo, e cuja exuberante bemaventurança<br />

onírica aparta intencionalmente de todo o pensamento in<strong>da</strong>gador.<br />

Vê sempre numa composição um inexplorável produto na-<br />

26 “The man, that has no music in himself,<br />

Nor is not moved with concord of sweet sounds,<br />

Is fit for treasons, stratagems and spoils”, etc.<br />

www.lusosofia.net<br />

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