Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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62 Eduard Hanslick<br />
anímica eleva<strong>da</strong> tomará, segundo a individuali<strong>da</strong>de do artista, mais ou<br />
menos a coloração <strong>da</strong> obra de arte em formação, que ela se acentuará<br />
ou apaziguará, mas sem jamais chegar ao afecto avassalador que frustra<br />
a produção artística que a reflexão clarividente afirma aqui, com a<br />
mesma importância, com o entusiasmo – eis especificações conheci<strong>da</strong>s,<br />
próprias <strong>da</strong> doutrina geral <strong>da</strong> arte. No tocante em especial à criação do<br />
compositor, importa dizer que se trata de um formar constante, um formar<br />
em relações sonoras. A soberania do sentimento, que de tão bom<br />
grado se atribui à música, nunca está tão mal aplica<strong>da</strong> como quando ela<br />
se pressupõe no compositor, durante a criação, e esta se concebe como<br />
uma improvisação entusiasta. O labor que progride passo a passo, com<br />
que se esculpe uma peça musical, que inicialmente pairava na mente<br />
do compositor só em esboço, até chegar a uma figura determina<strong>da</strong> nos<br />
compassos individuais, quando muito, já na forma sensivelmente múltipla<br />
<strong>da</strong> orquestra, tal labor é tão reflexivo e complicado que dificilmente<br />
o poderá compreender quem jamais o executou. Não só, porventura,<br />
as frases fuga<strong>da</strong>s ou contrapontísticas em que com<strong>para</strong>mos e medimos<br />
uma nota com outra, mas também o fluente rondó, a ária mais melodiosa<br />
exige uma “elaboração minuciosa”. A activi<strong>da</strong>de do compositor<br />
é plástica à sua maneira e comparável à do artista plástico. Tal como<br />
este, o compositor não deve depender do seu material, pois tem, à semelhança<br />
<strong>da</strong>quele, de apresentar objectivamente o seu ideal (musical),<br />
configurando-o em forma pura.<br />
Isto foi talvez passado por alto por Rosenkranz ao percepcionar,<br />
mas sem a resolver, esta contradição: porque é que as mulheres, as<br />
quais, por natureza, dependem sobretudo do sentimento, na<strong>da</strong> produzem<br />
em matéria de composição 9 ? A razão – <strong>para</strong> lá <strong>da</strong>s condições<br />
gerais que mantêm as mulheres mais longe <strong>da</strong>s produções espirituais<br />
– reside precisamente no momento plástico do compor, que exige uma<br />
exteriorização <strong>da</strong> subjectivi<strong>da</strong>de em não menor grau, embora em direcção<br />
diferente, do que as artes plásticas. Se a intensi<strong>da</strong>de e a vivaci<strong>da</strong>de<br />
do sentir fossem realmente decisivas <strong>para</strong> o compor, a falta total de<br />
9 Rosenkranz, Psychologie, 2 a ed., p. 60.<br />
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