Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 107<br />
efeito de uma peça musical de harmonia com a sua individuali<strong>da</strong>de,<br />
o conteúdo respectivo na<strong>da</strong> mais é do que precisamente as formas sonoras<br />
ouvi<strong>da</strong>s, pois a música não se manifesta só por meio de sons,<br />
expressa apenas sons.<br />
Krüger, o mais brilhante e erudito defensor do “conteúdo” musical<br />
em face de Hegel e Kahlert, afirma que a música ostenta só uma<br />
outra vertente do mesmo conteúdo que pertence às restantes artes, por<br />
exemplo, à pintura. “To<strong>da</strong> a figura plástica – diz ele (Beiträge; 131) – é<br />
estática: não proporciona a acção, mas a acção pretérita ou o existente.<br />
Portanto, o quadro não diz que Apolo vence, mas mostra o vencedor, o<br />
lutador furioso”, etc. Em contraparti<strong>da</strong>, "a música acrescenta aos substantivos<br />
plásticos estáticos o verbo, a activi<strong>da</strong>de, a agitação interna, e<br />
se além reconhecemos como o ver<strong>da</strong>deiro conteúdo estático – furioso,<br />
enamorado –, não menos reconhecemos aqui o ver<strong>da</strong>deiro conteúdo<br />
turbulento – encoleriza-se, ama, ruge, agita-se, assalta."Este último só<br />
é exacto a meias: a música pode “rugir, agitar-se e assaltar”, mas não<br />
pode “enraivecer-se” e ”amar”. São já paixões acrescenta<strong>da</strong>s pelo sentimento.<br />
Devemos a este respeito recor<strong>da</strong>r o nosso segundo capítulo que,<br />
na sua tendência negativa, advoga a questão do conteúdo <strong>da</strong> música de<br />
modo tão essencial como o faz o terceiro capítulo, com as suas determinações<br />
positivas sobre a essência puramente formal <strong>da</strong> beleza musical.<br />
Krüger insiste em confrontar a especificação do conteúdo pintado com<br />
a do musicado. Afirma ele: "O artista plástico representa Orestes perseguido<br />
pelas Fúrias: Na superfície exterior do seu corpo, nos olhos,<br />
na boca, na fronte e na atitude, aparece a expressão do fugitivo, do melancólico,<br />
do desesperado e, a seu lado, as figuras <strong>da</strong> maldição que o<br />
dominam, em majestade imperiosa e temível, mas também superficialmente<br />
em posições, contornos, rasgos estáticos. O compositor não<br />
representa Orestes, o perseguido, em silhueta imóvel, mas segundo o<br />
aspecto que falta ao escultor: canta o horror e o tremor <strong>da</strong> sua alma, a<br />
agitação que luta enquanto foge", etc. Na minha opinião, isto é completamente<br />
falso. O compositor não pode representar Orestes nem deste<br />
nem <strong>da</strong>quele modo, simplesmente não o pode representar.<br />
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