Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 75<br />
causa <strong>da</strong> música? Experimentam-na, porventura, os “nervos do simpático”<br />
(– onde, como observou o subtil Purkinje, o nome é o que há de<br />
mais bonito)? A uniformi<strong>da</strong>de ou a desconformi<strong>da</strong>de dos sucessivos<br />
golpes de ar é que explicarão, por via acústica, porque é que um som se<br />
afigura estridente, desagradável, e outro puro e harmonioso. Com esta<br />
sensação simples na<strong>da</strong> tem a ver o esteta, que exige a explicação do<br />
sentimento e pergunta: Como é que uma série de sons agradáveis produz<br />
a impressão de tristeza, e outra igualmente agradável a de alegria?<br />
<strong>Do</strong>nde dimanam as disposições anímicas opostas que, muitas vezes,<br />
se apresentam com uma força compulsiva, e que diferentes acordes ou<br />
instrumentos de som igualmente puro e harmonioso influenciam directamente<br />
o ouvinte?<br />
A tudo isto – até onde chega o nosso saber e juízo – a fisiologia não<br />
consegue responder. Como é que o poderia fazer? Não sabe como a<br />
dor suscita as lágrimas, como a alegria produz o riso – não sabe o que<br />
são a dor e a alegria! Guarde-se, pois, ca<strong>da</strong> qual de exigir a uma ciência<br />
explicações que ela não pode fornecer.<br />
Sem dúvi<strong>da</strong>, o fun<strong>da</strong>mento de todo o sentimento suscitado pela música<br />
deve, em primeiro lugar, residir num modo determinado de afecção<br />
dos nervos mediante uma impressão auditiva. Mas o modo de uma excitação<br />
do nervo acústico, que não podemos sequer seguir até à sua<br />
origem, incidir na consciência como determina<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de sensação,<br />
de a impressão corpórea se transformar em estado anímico e,<br />
finalmente, de a sensação se converter em sentimento – tudo isto fica<br />
<strong>para</strong> além <strong>da</strong> ponte escura, intransponível a todos os investigadores. Há<br />
milhares de paráfrases deste único enigma originário: a relação entre o<br />
corpo e a alma. Esta esfinge jamais se precipitará na água.<br />
O que a fisiologia oferece à ciência musical é um âmbito de pontos<br />
de referência objectivos que preservam <strong>da</strong>s correspondentes inferências<br />
falsas. Muito do progresso no conhecimento dos fenómenos suscitados<br />
tiva, a mesma incitação aos movimentos que <strong>para</strong> a música rítmica – o que nos parece<br />
contradizer a experiência.<br />
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