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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 113<br />

a nossa época já não ostente nenhumas obras orquestrais beethovenianas.<br />

No diligente uso do menos é que se pode comprovar um prudente<br />

pai de família; um príncipe deve <strong>da</strong>r com mãos cheias. Como na economia<br />

política, também ninguém se tornou rico em virtude <strong>da</strong> simples<br />

execução na música.<br />

Na questão acerca do conteúdo <strong>da</strong> arte sonora, há que acautelarse<br />

em particular de tomar o termo em sentido lau<strong>da</strong>tório. <strong>Do</strong> facto<br />

de a música não ter qualquer conteúdo (objecto) não se segue que ela<br />

careça de substância. Os que defendem com fervor partidista o “conteúdo”<br />

<strong>da</strong> música pensam claramente no “teor espiritual”. Se por “teor”<br />

se entender, com Goethe, "algo de místico <strong>para</strong> lá e acima do objecto<br />

e do conteúdo"de uma coisa ou mais conforme ao entendimento geral<br />

do que o fun<strong>da</strong>mento substancialmente valioso, o substrato espiritual<br />

em geral, sempre será concedido à arte sonora e deverá admirar-se nas<br />

suas supremas criações como poderosa revelação. A música é um jogo,<br />

mas não uma brincadeira. Nas veias do corpo musical belo e bem proporcionado,<br />

as ideias e os sentimentos correm como o sangue, não se<br />

identificam com ele, não são visíveis, mas animam-no. O compositor<br />

inventa e pensa. Mas, alheado de to<strong>da</strong> a reali<strong>da</strong>de objectiva, inventa e<br />

pensa em sons. Esta triviali<strong>da</strong>de, no entanto, deve aqui repetir-se expressamente,<br />

porque é com demasia<strong>da</strong> frequência nega<strong>da</strong> e lesa<strong>da</strong> nas<br />

consequências por aqueles que em princípio a admitem. Imaginam o<br />

compor como a tradução <strong>para</strong> sons de um material pensado quando,<br />

na reali<strong>da</strong>de, os próprios sons são a linguagem originária intraduzível.<br />

<strong>Um</strong>a vez que o compositor é forçado a pensar em sons, depreende-se<br />

já a falta de conteúdo <strong>da</strong> música, pois qualquer conteúdo conceptual<br />

deveria poder pensar-se em palavras.<br />

Tão rigorosamente como, na in<strong>da</strong>gação do conteúdo, tivemos de<br />

excluir to<strong>da</strong> a música ajusta<strong>da</strong> a textos <strong>da</strong>dos enquanto contrários ao<br />

conceito puro <strong>da</strong> arte sonora, tão indispensáveis são as obras-primas <strong>da</strong><br />

música vocal na apreciação do teor <strong>da</strong> arte dos sons. Desde a canção<br />

simples até à ópera rica em figuras e ao venerável ofício divino na mú-<br />

www.lusosofia.net<br />

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