Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 45<br />
corrente assim como o conceito de imanência <strong>para</strong> a transcendência.<br />
To<strong>da</strong> a arte tem por objectivo trazer à manifestação externa uma ideia<br />
que cobrou vi<strong>da</strong> na fantasia do artista. Este elemento ideal na música<br />
é sonoro, e não algo de conceptual, que importaria primeiro traduzir<br />
em sons. O ponto decisivo de que parte to<strong>da</strong> a ulterior criação de um<br />
compositor não é o propósito de descrever musicalmente uma paixão,<br />
mas a invenção de uma determina<strong>da</strong> melodia. Graças ao poder primitivo<br />
e misterioso, em cuja oficina não penetra nem jamais penetrará<br />
o olho humano, ressoa no espírito do compositor um tema, um motivo.<br />
Não podemos remontar além <strong>da</strong> origem desta primeira semente,<br />
temos de aceitar isso como simples facto. <strong>Um</strong>a vez insinuado na fantasia<br />
do artista, começa o seu labor que, partindo desse tema principal e<br />
referindo-se sempre a ele, persegue o objectivo de o expor em to<strong>da</strong>s as<br />
suas relações. A beleza de um simples tema independente manifesta-se<br />
no sentimento estético com aquela imediati<strong>da</strong>de que não suporta qualquer<br />
outra explicação a não ser, quando muito, a conveniência intrínseca<br />
do fenómeno, a harmonia <strong>da</strong>s suas partes, sem referência a um<br />
terceiro que exista no exterior. Agra<strong>da</strong>-nos em si como o arabesco e<br />
como a coluna ou como os produtos do belo natural, como a folha e a<br />
flor.<br />
Na<strong>da</strong> mais erróneo e frequente do que a opinião que distingue entre<br />
"música bela"com e sem conteúdo espiritual. Imagina a forma artisticamente<br />
composta como algo de por si autónomo, a alma verti<strong>da</strong> nela<br />
também como algo de independente e, em segui<strong>da</strong>, divide consequentemente<br />
as composições em garrafas de champanhe vazias e cheias. Mas<br />
o champanhe musical tem a peculiari<strong>da</strong>de de crescer juntamente com a<br />
garrafa.<br />
<strong>Um</strong>a ideia musical determina<strong>da</strong> é por si, e sem mais, engenhosa, e<br />
outra trivial; esta cadência final soa dignamente e, por meio <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça<br />
de duas notas, torna-se vulgar. Designamos, com to<strong>da</strong> a razão,<br />
um tema musical como grandioso, gracioso, terno, insípido, banal;<br />
mas to<strong>da</strong>s estas expressões indicam o carácter musical <strong>da</strong> passagem.<br />
Para caracterizar a expressão musical de um motivo, escolhe-<br />
www.lusosofia.net<br />
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