Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 35<br />
beleza musical está sempre inclina<strong>da</strong> a fugir do especialmente expressivo,<br />
porque aquela exige um desdobramento independente, e este uma<br />
negação servil.<br />
Ao princípio declamatório do recitativo corresponde o dramático na<br />
ópera. Os finais <strong>da</strong>s óperas de Mozart encontram-se na mais correcta<br />
consonância com o seu texto. Quando se escutam sem este último,<br />
permanecem talvez obscuras algumas passagens intermédias, mas as<br />
partes principais e o seu conjunto são em si uma música bela. É com<br />
razão – e to<strong>da</strong> a gente sabe – que a satisfação proporciona<strong>da</strong> <strong>da</strong>s exigências<br />
musicais e dramáticas se considera como o ideal <strong>da</strong> ópera. To<strong>da</strong>via,<br />
tanto quanto sei, nunca assaz se demonstrou que a essência <strong>da</strong><br />
ópera se transforme numa luta contínua entre o princípio <strong>da</strong> exactidão<br />
dramática e o <strong>da</strong> beleza musical, uma concessão interminável de um<br />
ao outro. Não é a inconsistência de to<strong>da</strong>s as personagens actuantes<br />
cantarem que torna oscilante e difícil o princípio <strong>da</strong> ópera – semelhantes<br />
ilusões aceita-as a fantasia com grande facili<strong>da</strong>de –, mas a posição<br />
força<strong>da</strong> que obriga a música e o texto a excessos ou concessões incessantes<br />
faz que a ópera, como um Estado constitucional, se funde<br />
numa luta permanente entre dois poderes legítimos. Esta luta, em que<br />
o artista tem de fazer vencer ora este princípio, ora o outro, é o ponto<br />
em que nascem to<strong>da</strong>s as insuficiências <strong>da</strong> ópera e de que devem derivar<br />
to<strong>da</strong>s as regras artísticas que pretendem estabelecer <strong>para</strong> ela algo<br />
de decisivo. Seguidos nas suas consequências, o princípio musical e<br />
o dramático têm necessariamente de se cruzar entre si. Mas ambas as<br />
linhas são assaz compri<strong>da</strong>s <strong>para</strong> ao olho humano parecerem <strong>para</strong>lelas,<br />
ao longo de uma considerável extensão.<br />
O mesmo vale <strong>para</strong> a <strong>da</strong>nça, como podemos observar em qualquer<br />
bailado. Quanto mais se afasta <strong>da</strong> rítmica bela <strong>da</strong>s suas formas <strong>para</strong><br />
se tornar expressiva com a gesticulação e a mímica, <strong>para</strong> expressar<br />
determinados pensamentos e sentimentos, tanto mais se aproxima do<br />
significado informe <strong>da</strong> mera pantomima. A intensificação do princípio<br />
dramático na <strong>da</strong>nça transforma-se em igual medi<strong>da</strong> numa lesão <strong>da</strong> sua<br />
beleza plástica e rítmica. <strong>Um</strong>a ópera nunca se aguenta de todo só por<br />
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