Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 57<br />
Tentou-se igualmente, com frequência, estabelecer um <strong>para</strong>lelo entre<br />
a linguagem e a música e aplicar as leis <strong>da</strong> primeira à última.<br />
O parentesco do canto com a linguagem era óbvio, tanto considerando<br />
a igual<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s condições fisiológicas como o carácter comum<br />
<strong>da</strong> exteriorização do íntimo mediante a voz humana. As relações análogas<br />
são demasiado evidentes <strong>para</strong> aqui as termos agora de estu<strong>da</strong>r.<br />
Admita-se, no entanto, apenas de modo explícito que, quando na música<br />
se trata realmente só <strong>da</strong> exteriorização subjectiva de um anelo interior,<br />
a legali<strong>da</strong>de que preside ao homem falante será em parte relevante<br />
<strong>para</strong> o homem que canta. A voz de quem está arrebatado pela paixão<br />
levanta-se, ao passo que a voz do locutor sereno abran<strong>da</strong>; as frases de<br />
particular importância pronunciam-se lentamente, as secundárias e indiferentes,<br />
com rapidez; o compositor de música vocal, em particular o<br />
dramático, não poderá passar por alto estes factores e outros parecidos.<br />
Só que não se ficou satisfeito com estas analogias limita<strong>da</strong>s, antes se<br />
concebeu a própria música como uma linguagem (mais indetermina<strong>da</strong><br />
ou delica<strong>da</strong>), tentando abstrair as leis <strong>da</strong> sua beleza <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong> língua.<br />
Fez-se então remontar to<strong>da</strong> a proprie<strong>da</strong>de e todo o efeito <strong>da</strong> música<br />
às analogias com a linguagem. Somos <strong>da</strong> opinião de que, ao tratar-se do<br />
específico de uma arte, as suas diferenças relativamente a campos afins<br />
são mais importantes do que as semelhanças. Sem se deixar influenciar<br />
por estas analogias, muitas vezes sedutoras, mas que não atingem a genuína<br />
essência <strong>da</strong> música, a investigação estética deve progredir sem<br />
cessar até ao ponto em que linguagem e música irreconciliavelmente<br />
se se<strong>para</strong>m. Só a partir deste ponto podem brotar determinações ver<strong>da</strong>deiramente<br />
frutíferas <strong>para</strong> a arte sonora. A diferença basilar essencial<br />
consiste em que, na linguagem, o som é apenas um meio <strong>para</strong> o fim de<br />
algo a expressar e que é de todo alheio a este meio, ao passo que o som,<br />
na música, surge como fim em si. Aqui, a beleza autónoma <strong>da</strong>s formas<br />
sonoras e, além, a dominação absoluta do pensamento sobre o som enquanto<br />
simples meio de expressão enfrentam-se de modo tão exclusivo<br />
que a mistura dos dois princípios constitui uma impossibili<strong>da</strong>de lógica.<br />
O centro de gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> essência <strong>da</strong> linguagem não é, pois, o<br />
www.lusosofia.net<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐