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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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114 Eduard Hanslick<br />

sica sacra, a arte sonora nunca deixou de acompanhar e de glorificar os<br />

mais caros e importantes movimentos do espírito humano.<br />

Com a vindicação do teor espiritual, deve ain<strong>da</strong> realçar-se expressamente<br />

uma segun<strong>da</strong> consequência. A beleza formal inobjectal <strong>da</strong><br />

música não impede que se possa imprimir individuali<strong>da</strong>de às suas criações.<br />

A índole <strong>da</strong> elaboração artística, bem como a invenção justamente<br />

deste tema, é em ca<strong>da</strong> caso de tal modo única que jamais se<br />

pode diluir numa generali<strong>da</strong>de superior, antes persiste como indivíduo.<br />

<strong>Um</strong> motivo de Mozart ou Beethoven persiste tão firme e incontaminado<br />

em si mesmo como um verso de Goethe, uma sentença de Lessing, uma<br />

estátua de Thorwaldsen ou um quadro de Overbeck. As ideias (temas)<br />

musicais autónomas têm a segurança de uma citação e a plastici<strong>da</strong>de<br />

de um quadro; são individuais, pessoais, eternas.<br />

Se, por conseguinte, já não podemos compartilhar a concepção de<br />

Hegel acerca <strong>da</strong> falta de conteúdo <strong>da</strong> arte sonora, mais erróneo nos parece<br />

ain<strong>da</strong> que ele atribua a esta arte apenas a expressão do “íntimo sem<br />

individuali<strong>da</strong>de”. <strong>Do</strong> ponto de vista musical de Hegel, que passa por<br />

alto a activi<strong>da</strong>de essencialmente formadora e objectiva do compositor,<br />

concebendo a música somente como livre exteriorização <strong>da</strong> subjectivi<strong>da</strong>de,<br />

nem sequer se deduz a “ausência de individuali<strong>da</strong>de” <strong>da</strong> música,<br />

já que o espírito subjectivamente produtor surge individual por natureza.<br />

No terceiro capítulo, aludimos ao modo como a individuali<strong>da</strong>de se<br />

exprime na escolha e na elaboração dos distintos elementos musicais.<br />

Contrariamente à censura <strong>da</strong> falta de conteúdo, a música tem, pois,<br />

conteúdo, mas um conteúdo musical, o qual é uma centelha do fogo<br />

divino em na<strong>da</strong> inferior ao belo de qualquer outra arte. Mas só negando<br />

inexoravelmente qualquer outro “conteúdo” <strong>da</strong> música se salva o seu<br />

“teor”. <strong>Do</strong> sentimento indeterminado, a que se reduz, no melhor dos<br />

casos, aquele conteúdo, não se pode inferir o seu significado espiritual,<br />

mas sim a partir de determina<strong>da</strong> configuração sonora como criação<br />

livre do espírito com material aconceptual, susceptível de espírito.<br />

Ora este teor espiritual conecta também, no ânimo do ouvinte, o<br />

www.lusosofia.net<br />

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