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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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58 Eduard Hanslick<br />

mesmo que o <strong>da</strong> música, e to<strong>da</strong>s as restantes peculiari<strong>da</strong>des se agrupam<br />

em torno deste centro de gravi<strong>da</strong>de. To<strong>da</strong>s as leis especificamente<br />

musicais girarão à volta <strong>da</strong> significação autónoma e <strong>da</strong> beleza dos sons,<br />

to<strong>da</strong>s as leis linguísticas, pelo contrário, em torno do correcto uso do<br />

som em vista <strong>da</strong> expressão.<br />

As concepções mais perniciosas e mais confusas dimanaram <strong>da</strong> tendência<br />

de conceber a música como uma espécie de linguagem; todos<br />

os dias se nos apresentam as suas consequências práticas. Assim, sobretudo<br />

a compositores de escasso poder criador, afigurou-se oportuno<br />

considerar a beleza musical, inatingível <strong>para</strong> eles, como um princípio<br />

falso, sensual, e realçar em vez disso o significado característico<br />

<strong>da</strong> música. Abstraindo inteiramente <strong>da</strong>s óperas de Richard Wagner,<br />

encontram-se muitas vezes, nas mais insignificantes coisinhas instrumentais,<br />

interrupções do fluxo melódico mediante cadências quebra<strong>da</strong>s,<br />

frases recitativas e quejandos que, espantando o ouvinte, se comportam<br />

como se significassem algo de particular ao passo que, na reali<strong>da</strong>de,<br />

na<strong>da</strong> mais expressam do que feal<strong>da</strong>de. <strong>Do</strong>s compositores modernos,<br />

que interrompem incessantemente o grande ritmo <strong>para</strong> destacar<br />

parênteses misteriosos ou contrastes acumulados, costuma dizer-se em<br />

tom de louvor que a música visa assim superar os seus limites estreitos<br />

e elevar-se à linguagem. Semelhante encómio sempre nos pareceu<br />

muito ambíguo. Os limites <strong>da</strong> música não são de modo algum estreitos,<br />

mas sim estritamente estabelecidos. A música nunca pode “elevar-se à<br />

linguagem” – rebaixar-se, deveria em rigor dizer-se do ponto de vista<br />

musical – já que a música deveria ser manifestamente uma linguagem<br />

sublima<strong>da</strong> 8 .<br />

8 Importa não silenciar que uma <strong>da</strong>s obras mais geniais e grandiosas de todos<br />

os tempos contribuiu, com o seu esplendor, <strong>para</strong> essa mentira predilecta <strong>da</strong> crítica<br />

musical moderna que se refere à “coacção interna <strong>da</strong> música <strong>para</strong> a determinação <strong>da</strong><br />

linguagem fala<strong>da</strong>” e “<strong>para</strong> a libertação dos erros eurrítmicos”. Referimo-nos à Nona<br />

de Beethoven. Ela é uma <strong>da</strong>s divisórias espirituais que, visíveis a grande distância e<br />

insuperáveis, se situam entre as correntes de convicções opostas.<br />

Os músicos que se preocupam com a magnificência <strong>da</strong> “intenção”, a significação<br />

espiritual <strong>da</strong> missão abstracta acima de tudo, colocam a Nona Sinfonia no píncaro<br />

www.lusosofia.net<br />

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