Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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72 Eduard Hanslick<br />
então sempre o gracioso parecer que um dos nossos mais famosos naturalistas<br />
expressou a propósito <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s “cadeias electromagnéticas<br />
de Goldberg”. Dizia ele: "Não se sabe se uma corrente eléctrica<br />
pode curar enfermi<strong>da</strong>des, mas sabe-se, isso sim, que ‘as cadeias de<br />
Goldberg’ não conseguem produzir uma corrente eléctrica". Na aplicação<br />
aos nossos doutores musicais, tal significaria: É possível que certos<br />
afectos anímicos suscitem uma crise feliz nas doenças corporais, mas<br />
não é possível provocar pela música quaisquer afectos anímicos<br />
Ambas as teorias, a psicológica e a fisiológica, coincidem no facto<br />
de, a partir de pressupostos duvidosos, inferirem consequências ain<strong>da</strong><br />
mais duvidosas e chegarem, por fim, a consequências práticas mais<br />
precárias. <strong>Um</strong> método terapêutico pode, decerto, tolerar objecções lógicas,<br />
mas é certamente desagradável que, até agora, ain<strong>da</strong> nenhum<br />
médico tenha julgado oportuno enviar um doente de tifo a uma representação<br />
de O Profeta de Meyerbeer ou servir-se de uma trompa de<br />
caça em vez <strong>da</strong> lanceta.<br />
O efeito corporal <strong>da</strong> música não é em si nem tão intenso nem tão seguro,<br />
nem tão independente de pressupostos psíquicos e estéticos, nem<br />
finalmente tão manejável à discrição, que se possa tomar em consideração<br />
como efeito terapêutico efectivo.<br />
To<strong>da</strong> a cura realiza<strong>da</strong> com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> música tem o carácter de um<br />
caso excepcional, cujo êxito nunca se poderia atribuir apenas à música,<br />
mas dependeu ao mesmo tempo de condições específicas, corporais e<br />
espirituais talvez inteiramente individuais. É muito digno de se notar<br />
que a única aplicação <strong>da</strong> música, que realmente tem lugar na medicina,<br />
a saber, no tratamento de loucos, especula sobretudo com o aspecto<br />
espiritual do efeito musical. Como se sabe, a moderna psiquiatria emprega<br />
a música em muitos casos, e com bom resultado. Mas este não<br />
se fun<strong>da</strong> nem na comoção material do sistema nervoso nem na provocação<br />
de paixões, mas na influência tranquilizadora e animadora que o<br />
jogo dos sons, em parte divertido e em parte cativante, pode exercer sobre<br />
um ânimo sombrio ou excessivamente agitado. Quando o demente<br />
escuta o sensorial, e não o artístico, <strong>da</strong> peça musical, ao ouvir com aten-<br />
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