Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 33<br />
específico como conteúdo necessário, podem observar-se em obras de<br />
homens tão brilhantes como Mattheson. De acordo com o seu princípio<br />
- "em ca<strong>da</strong> melodia, devemos estabelecer como finali<strong>da</strong>de principal<br />
uma moção anímica- ensina, no seu Vollkommener Kapellmeister (p.<br />
230 ss.): "A paixão que se deve representar numa courante é a esperança.”<br />
"A saraban<strong>da</strong> não tem de expressar nenhuma outra paixão a<br />
não ser a ambição.” "No concerto grosso, domina a voluptuosi<strong>da</strong>de."A<br />
chaconne deveria expressar "sacie<strong>da</strong>de", e a abertura, "nobreza"?<br />
O nosso resultado dá, porventura, lugar à opinião de que a representação<br />
de determinados sentimentos seria um ideal <strong>da</strong> música, que<br />
ela jamais seria capaz de todo alcançar, mas do qual poderia e deveria<br />
sempre aproximar-se mais. As múltiplas expressões engenhosas sobre<br />
a tendência <strong>da</strong> música <strong>para</strong> romper as barreiras <strong>da</strong> sua indeterminação<br />
e se transformar em linguagem concreta, as loas populares à música<br />
em que se percepciona ou julga percepcionar tal aspiração revelam a<br />
efectiva difusão de semelhante concepção.<br />
Só que, com maior decisão ain<strong>da</strong> do que na contestação <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> representação musical dos sentimentos, temos de rejeitar<br />
a opinião de que aquela poderia alguma vez proporcionar o princípio<br />
estético <strong>da</strong> arte sonora.<br />
O belo na música também não coincidiria com a justeza <strong>da</strong> representação<br />
dos sentimentos, se esta fosse possível. Suponhamos por um<br />
instante tal possibili<strong>da</strong>de, a fim de nos convencermos no plano prático.<br />
Não podemos decerto in<strong>da</strong>gar esta ficção na música instrumental, a<br />
qual, por si só, impede a comprovação de determinados afectos, mas só<br />
na música vocal, a que corresponde a acentuação de estados anímicos<br />
preestabelecidos.<br />
Aqui, as palavras que o compositor tem diante de si especificam o<br />
objecto a descrever; a música tem o poder de o animar e comentar, de<br />
lhe emprestar em maior ou menor grau a expressão <strong>da</strong> interiori<strong>da</strong>de individual.<br />
Fá-lo mediante a característica mais exequível do movimento<br />
e o máximo apuro do simbolismo inerente aos sons. Se aceita como<br />
ponto de vista principal o texto, e não a peculiar beleza impressa, pode<br />
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