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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 77<br />

Este último ponto é importante. De facto, se a conexão de determinados<br />

sentimentos com certos modos de expressão musicais fosse tão<br />

fidedigna como se é inclinado a crer e como deveria apresentar-se <strong>para</strong><br />

vindicar o significado que se lhe atribui, seria então fácil levar depressa<br />

o compositor incipiente a um elevado efeito artístico mais arrebatador.<br />

Foi efectivamente o que também se pretendeu. Mattheson, no terceiro<br />

capítulo do seu Vollkommener Capellmeister, ensina como se devia<br />

compor o orgulho, a humil<strong>da</strong>de e to<strong>da</strong>s as paixões, ao dizer, por exemplo,<br />

que “as invenções <strong>para</strong> expressar o ciúme devem to<strong>da</strong>s ter algo de<br />

mau humor, fúria e lástima”. Outro mestre do século passado, Heinichen,<br />

oferece, no seu General bass, oito folhas de exemplos musicais<br />

de como a música deveria expressar “sensações furiosas, altercadoras,<br />

magníficas, temerosas ou amorosas” 19 . Só falta que tais prescrições<br />

comecem com a fórmula dos livros de culinária “tome-se” ou terminem<br />

com a indicação de receita médica. Depreende-se de semelhantes<br />

intentos a convicção instrutiva de que as regras de arte específicas são<br />

sempre ao mesmo tempo demasiado estreitas e excessivamente amplas.<br />

Estas regras, em si infun<strong>da</strong><strong>da</strong>s, <strong>para</strong> despertar mediante a música<br />

determinados sentimentos integram-se, porém, tanto menos na estética<br />

quanto o efeito visado não é apenas estético, mas corpóreo numa<br />

fracção ineliminável. A receita estética deveria ensinar como é que<br />

o compositor produz o belo na música, mas não como suscita quaisquer<br />

afectos no auditório. A total e efectiva incapaci<strong>da</strong>de destas regras<br />

surge, <strong>da</strong> forma mais patente, na reflexão de quão poderosamente mágicas<br />

elas deveriam ser. Pois se o efeito sentimental de ca<strong>da</strong> elemento<br />

musical fosse necessário e susceptível de exploração, poderia tocar-se<br />

no ânimo do ouvinte como num teclado. E se tal fosse possível – ter-seia<br />

deste modo solucionado o problema <strong>da</strong> arte? Assim reza a pergunta<br />

19 São deliciosos os ensinamentos do conselheiro áulico e doutor em filosofia v.<br />

Böcklin que, na p. 34 dos seus Fragmente zur höheren Musik, diz entre outras coisas:<br />

“Supondo que o compositor quer representar um indivíduo ofendido, nesta música<br />

deve sobressair calor estético sobre calor estético, golpe sobre golpe, um canto sublime<br />

com extrema vivaci<strong>da</strong>de, as vozes médias devem ser cheias de furor e uns<br />

golpes tremebundos devem assustar o ouvinte expectante.”<br />

www.lusosofia.net<br />

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