Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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104 Eduard Hanslick<br />
admitem, quando muito, a confusão de que se trataria de um outro indivíduo<br />
nas mesmas circunstâncias, mas não de que fossem circunstâncias<br />
de todo diversas.<br />
Vê-se quão estreitamente a relação entre a música e o belo natural<br />
está liga<strong>da</strong> à questão integral do seu conteúdo.<br />
Irá ain<strong>da</strong> buscar-se uma objecção à literatura musical <strong>para</strong> reivindicar<br />
o belo natural em prol <strong>da</strong> música. Trata-se de exemplos em que<br />
certos compositores não só foram à natureza buscar o motivo poético<br />
(como nos relatos acima mencionados), mas em que reproduziram<br />
manifestações acústicas <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> sonora: o canto do galo em<br />
As Estações de Haydn, o canto do cuco, do rouxinol e <strong>da</strong> codorniz na<br />
Consagração dos Sons de Spohr e na Sinfonia Pastoral de Beethoven.<br />
Embora escutemos estas imitações, e as escutemos numa obra de arte<br />
musical, não têm nela um significado musical, mas poético. O canto<br />
do galo não se nos apresenta neste caso como música bela ou em geral<br />
como música, mas apenas desperta a impressão que está liga<strong>da</strong> a esse<br />
fenómeno natural. Em geral, o que suscita a nossa lembrança são referências<br />
e citações conheci<strong>da</strong>s: é de manhã cedo, uma noite tempera<strong>da</strong><br />
de Verão, a Primavera. <strong>Um</strong> compositor jamais conseguiu, sem esta tendência<br />
descritiva, utilizar vozes naturais <strong>para</strong> fins realmente musicais.<br />
As vozes naturais <strong>da</strong> Terra não conseguem, no seu conjunto, produzir<br />
um tema, justamente porque não são música, e afigura-se muito significativo<br />
que a arte sonora só possa fazer uso <strong>da</strong> natureza, quando se<br />
enfronha na pintura.<br />
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