Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 43<br />
To<strong>da</strong>s as descrições fantasiosas, características, paráfrases de uma obra<br />
musical são figura<strong>da</strong>s ou erróneas. O que é descrição em qualquer outra<br />
arte é, na música, já metáfora. A música pretende ser apreendi<strong>da</strong><br />
como música, e só pode compreender-se a partir dela própria, fruir-se<br />
em si mesma.<br />
O "especificamente musical"de nenhum modo se deve entender como<br />
simples beleza acústica ou dimensão proporcional – ramos que contém<br />
em si como subordinados –, e menos ain<strong>da</strong> se pode falar de um "jogo<br />
de sons que faz cócegas no ouvido"e designações semelhantes, com<br />
que se costuma realçar a falta de animação espiritual. Ao insistirmos<br />
na beleza musical, não excluímos o conteúdo espiritual, pelo contrário,<br />
reclamamo-lo. Com efeito, não reconhecemos beleza alguma sem espírito.<br />
Mas, ao transferirmos o belo na música essencialmente <strong>para</strong> as<br />
formas, insinuou-se já que o conteúdo espiritual se encontra na mais estreita<br />
relação com estas formas sonoras. O conceito <strong>da</strong> "forma"encontra<br />
na música uma realização inteiramente peculiar. As formas constituí<strong>da</strong>s<br />
por sons não são vazias mas cheias, não são simples delimitação<br />
linear de um vazio, mas espírito que se configura a partir de dentro.<br />
Em face do arabesco, a música é, pois, na reali<strong>da</strong>de um quadro, mas<br />
um quadro cujo objecto não podemos expressar em palavras e submeter<br />
aos nossos conceitos. Na música, há sentido e consequência, mas<br />
musical; é uma linguagem que falamos e entendemos, mas que não<br />
somos capazes de traduzir. Há um conhecimento profundo em aludir<br />
também a "pensamentos"nas obras sonoras e, como no falar, o juízo<br />
dextro distingue aqui facilmente pensamentos ver<strong>da</strong>deiros de simples<br />
palavrório. Reconhecemos de igual modo o fechamento racional de um<br />
grupo de sons, ao <strong>da</strong>r-lhe o nome de "frase". É que sentimos exactamente<br />
o mesmo que em qualquer período lógico, onde termina o seu<br />
sentido, embora a ver<strong>da</strong>de de ambos se mantenha incomensurável.<br />
O elemento satisfatoriamente racional que em si e por si pode residir<br />
nas formações musicais fun<strong>da</strong>-se em certas leis básicas primitivas<br />
que a natureza implantou na organização do homem e nos fenómenos<br />
sonoros externos. A lei originária <strong>da</strong> "progressão harmónica"é o que,<br />
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