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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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108 Eduard Hanslick<br />

Não se objecte que as artes plásticas também não conseguem reproduzir<br />

a pessoa histórica determina<strong>da</strong>, e que não reconheceríamos a<br />

figura pinta<strong>da</strong> como este indivíduo, se não acrescentássemos o conhecimento<br />

do historicamente factual. Sem dúvi<strong>da</strong>, não é Orestes, o homem<br />

com estas vivências e determinados momentos biográficos, que<br />

só o poeta pode representar, porque somente ele consegue narrar. Mas<br />

o quadro “Orestes” mostra-nos, no entanto, inconfundivelmente um<br />

jovem de traços nobres, em indumentária grega, com o terror e a tortura<br />

<strong>da</strong> alma no rosto e nos gestos, mostra-nos as temíveis figuras <strong>da</strong>s<br />

deusas <strong>da</strong> vingança, perseguindo-o e atormentando-o. Tudo é claro,<br />

indubitável, visível, narrável – chame-se, ou não, o homem Orestes.<br />

Unicamente os motivos – que o jovem tenha cometido um matricídio,<br />

etc. – não são susceptíveis de expressão. Que é que a música pode opor<br />

em determinabili<strong>da</strong>de a esse conteúdo visível (abstraído do histórico)<br />

do quadro? Acordes de sétima diminuta, temas em menor, baixos ondulantes<br />

e quejandos, em suma, formas musicais que também podem<br />

representar uma mulher em vez de um jovem, alguém perseguido por<br />

beleguins e não por Fúrias, alguém ciumento, pensando em vingança,<br />

atormentado pela dor corporal, numa palavra, tudo o que é imaginável,<br />

se pretendermos que a peça musical representa algo.<br />

Não é necessário também recor<strong>da</strong>r expressamente a asserção já justifica<strong>da</strong><br />

segundo a qual, ao falar do conteúdo e <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de representação<br />

<strong>da</strong> “arte sonora”, só se pode partir <strong>da</strong> música instrumental<br />

pura. Ninguém olvi<strong>da</strong>rá isso, por exemplo, ao ponto de nos apresentar<br />

como objecção o Orestes <strong>da</strong> Ifigénia de Gluck. Este Orestes não é obra<br />

do compositor: as palavras são do poeta, a figura e a mímica do actor,<br />

a indumentária e as decorações do pintor – eis o que suscita o quadro<br />

pronto de Orestes. O contributo <strong>da</strong> música é talvez o mais belo de tudo,<br />

mas é justamente o único que na<strong>da</strong> tem a ver com o ver<strong>da</strong>deiro Orestes:<br />

o canto.<br />

Lessing, a partir <strong>da</strong> história de Laocoonte, explicou com magnífica<br />

clari<strong>da</strong>de o que o poeta e o artista plástico são capazes de fazer. O poeta,<br />

graças ao meio <strong>da</strong> linguagem, apresenta o Laocoonte histórico, in-<br />

www.lusosofia.net<br />

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