Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 37<br />
Suard e Abbé Arnaud, no lado de Gluck, Marmontel e La Harpe, entre<br />
os seus adversários – ultrapassaram decerto repeti<strong>da</strong>mente a crítica<br />
de Gluck <strong>para</strong> eluci<strong>da</strong>r o princípio dramático <strong>da</strong> ópera e a sua relação<br />
com o princípio musical; mas abor<strong>da</strong>ram essa relação como uma proprie<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> ópera entre muitas outras, e não como o seu princípio vital<br />
mais íntimo. Não tinham suspeição alguma de que <strong>da</strong> decisão dessa<br />
relação dependia a existência inteira <strong>da</strong> ópera. Surpreende ver quão<br />
perto estiveram por vezes, sobretudo os adversários de Gluck, do ponto<br />
a partir do qual se pode abarcar e superar perfeitamente o erro do princípio<br />
dramático. Assim, de la Harpe diz no Journal de Politique et de<br />
Litérature, de 5 de Outubro de 1777:<br />
"On objecte, qu’il n’est pas naturel, de chanter un air de<br />
cette nature <strong>da</strong>ns une situation passionée, que c’est un<br />
moyen d’arrêter la scène et de nuir à l’effet. Je trouve<br />
ces objections absolument illusoires. D’abord, dès qu’on<br />
admet le chant, il faut l’admettre le plus beau possible, et<br />
il n’est pas plus naturel de chanter mal, que de chanter<br />
bien. Tous les arts sont fondées sur des conventions, sur<br />
des données. Quand je viens à l’opéra, c’est pour entendre<br />
la musique. Je n’ignore pas, qu’Alceste ne faisait ses<br />
Adieux à Admète en chantant un air; mais comme Alceste<br />
est sur le théâtre pour chanter, si je retrouve sa douleur et<br />
son amour <strong>da</strong>ns un air bien melodieux, je jouirai de son<br />
chant en m’intéréssant à son infortune."<br />
[Objecta-se que não é natural cantar uma ária desta natureza numa<br />
situação apaixona<strong>da</strong>, que é um meio de obstruir a cena e de prejudicar<br />
o efeito. Acho que tais objecções são absolutamente ilusórias. Em<br />
primeiro lugar, desde que se admite o canto, é preciso admiti-lo o mais<br />
belo possível, e não é mais natural cantar mal do que cantar bem. To<strong>da</strong>s<br />
as artes se fun<strong>da</strong>m em convenções, em <strong>da</strong>dos. Quando vou à ópera, é<br />
<strong>para</strong> ouvir música. Não ignoro que Alceste nunca se despediria de Admeto<br />
cantanto uma ária; mas como Alceste está no teatro <strong>para</strong> cantar,<br />
www.lusosofia.net<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐