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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 85<br />

mais imediato nos povos antigos do que na actuali<strong>da</strong>de, porque a humani<strong>da</strong>de,<br />

nos seus estádios culturais primitivos, está muito mais aparenta<strong>da</strong><br />

e exposta ao elementar do que ulteriormente, quando a consciência<br />

e a autodeterminação ingressam no seu direito. A peculiar situação <strong>da</strong><br />

música na Antigui<strong>da</strong>de romana e grega veio ao encontro desta natural<br />

susceptibili<strong>da</strong>de. Não era uma arte no nosso sentido. O som e o<br />

ritmo actuavam numa independência quase isola<strong>da</strong> e substituíam, com<br />

sacões inadequados, o lugar <strong>da</strong>s ricas formas, cheias de espírito, que<br />

constituem a música contemporânea. Tudo o que se sabe <strong>da</strong> música<br />

<strong>da</strong>queles tempos permite inferir, com segurança, <strong>para</strong> um efeito seu<br />

simplesmente sensual, mas refinado, no interior dessa limitação. Na<br />

Antigui<strong>da</strong>de clássica, não existia uma música na acepção moderna, artística;<br />

caso contrário, não se teria podido perder <strong>para</strong> o ulterior desenvolvimento,<br />

como não se perderam a poesia, a escultura e a arquitectura<br />

clássicas. A predilecção dos Gregos por um estudo sólido <strong>da</strong>s relações<br />

sonoras subtilíssimas não vem agora a propósito, por ser meramente<br />

científica.<br />

A falta de harmonia, a restrição <strong>da</strong> melodia nos mais estreitos limites<br />

<strong>da</strong> expressão recitativa e, por fim, a incapaci<strong>da</strong>de, própria do antigo<br />

sistema tonal, de se desenvolver até conseguir uma ver<strong>da</strong>deira riqueza<br />

de figuras impossibilitavam uma absoluta importância <strong>da</strong> música como<br />

arte sonora no sentido estético; quase nunca se utilizava autonomamente,<br />

mas sempre em combinação com a poesia, a <strong>da</strong>nça e a mímica,<br />

portanto como complemento <strong>da</strong>s outras artes. A música tinha apenas a<br />

vocação de animar por meio <strong>da</strong> pulsação rítmica e <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de dos<br />

timbres; por fim, de comentar, como intensificação <strong>da</strong> declamação recitativa,<br />

determina<strong>da</strong>s palavras e sentimentos. Por isso, a música actuava<br />

tão-só segundo a sua vertente sensual e simbólica. Força<strong>da</strong> a estes dois<br />

factores, tinha de os levar em semelhante concentração à maior, mais<br />

ain<strong>da</strong>, à mais refina<strong>da</strong> eficácia. A hodierna arte sonora já não apresenta<br />

a intensificação do material melódico até ao emprego do quarto<br />

de tom e do “género enarmónico”, nem a característica expressão par-<br />

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