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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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100 Eduard Hanslick<br />

<strong>da</strong> ideia representa<strong>da</strong>, do sujeito. Onde é que o compositor vai buscar<br />

este material? <strong>Do</strong>nde brota <strong>para</strong> uma determina<strong>da</strong> composição o<br />

conteúdo, o objecto, que a estabelece como indivíduo e a distingue de<br />

outras?<br />

A poesia, a pintura e a escultura têm uma fonte inesgotável de temas<br />

[materiais] na natureza circunjacente. O artista sente-se estimulado por<br />

qualquer belo natural que se torna <strong>para</strong> ele material <strong>da</strong> produção própria.<br />

Nas artes plásticas, a criação prévia <strong>da</strong> natureza é mais conspícua.<br />

O pintor não poderia desenhar nenhuma árvore, nenhuma flor, se não<br />

existissem já preforma<strong>da</strong>s na natureza externa; o escultor não produziria<br />

qualquer estátua, sem conhecer e tomar por padrão a efectiva figura<br />

humana. O mesmo se diga dos objectos inventados. Nunca podem ser<br />

“inventados” em sentido estrito. Não consiste a paisagem “ideal” em<br />

rochas, árvores, água e formações de nuvens, coisas genuínas que já se<br />

encontram forma<strong>da</strong>s na natureza? O pintor não pode pintar na<strong>da</strong> que<br />

não tenha visto e observado com exactidão. É indiferente se pinta uma<br />

paisagem, um quadro de género ou histórico. Quando os nossos contemporâneos<br />

pintam um “Huss”, um “Lutero” ou um “Egmont”, jamais<br />

viram realmente o seu objecto, mas o modelo de ca<strong>da</strong> parte integrante<br />

sua têm de o ir buscar à natureza. O pintor não deve ter visto este<br />

homem, mas muitos homens, como se movem, como estão <strong>para</strong>dos,<br />

como ficam iluminados, como projectam sombras; a maior censura seria,<br />

certamente, a de que as suas figuras são impossíveis ou contrárias<br />

à natureza.<br />

O mesmo vale <strong>para</strong> a arte poética, que dispõe ain<strong>da</strong> de um campo<br />

muito mais vasto de modelos naturalmente belos. Os homens e as suas<br />

acções, os seus sentimentos, os seus destinos, como no-los apresenta a<br />

percepção própria ou a tradição (– esta pertence de facto àquilo com<br />

que o poeta de<strong>para</strong>, ao que se lhe oferece –), são material <strong>para</strong> o poema,<br />

a tragédia, o romance. O poeta não pode descrever um nascer do sol,<br />

um campo de neve, não pode delinear um estado sentimental nem teatralizar<br />

um camponês, um sol<strong>da</strong>do, um avaro e um apaixonado, a não<br />

www.lusosofia.net<br />

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