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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 89<br />

Este deboche sentimental é sobretudo tarefa dos ouvintes que não<br />

possuem qualquer formação <strong>para</strong> a apreensão artística do belo musical.<br />

O leigo é quem mais sente ao ouvir música, e de nenhum modo<br />

o artista instruído. Quanto mais importante é o momento estético no<br />

ouvinte (exactamente como na obra de arte) tanto mais ele nivela o<br />

momento puramente elementar. Não é, pois, correcto neste âmbito o<br />

venerável axioma dos teóricos: "<strong>Um</strong>a música sombria desperta em nós<br />

sentimentos de dor, ao passo que outra mais alegre desperta a joviali<strong>da</strong>de".<br />

Se ca<strong>da</strong> requiem, ca<strong>da</strong> marcha fúnebre ruidosa, ca<strong>da</strong> adágio lamuriento<br />

tivesse o poder de nos entristecer – quem poderia viver assim<br />

mais tempo? Se uma composição musical nos mira com olhos claros<br />

<strong>da</strong> beleza, deleitamo-nos nela intimamente, ain<strong>da</strong> que tivesse como objecto<br />

to<strong>da</strong>s as dores do século. Mas o júbilo mais ruidoso de um Final<br />

de Verdi ou de uma quadrilha de Musard nem sempre nos alegrou.<br />

O leigo e o sentimental costumam perguntar de bom grado se uma<br />

música é alegre ou triste. O músico inquire se é boa ou má. Esta<br />

curta sombra projecta<strong>da</strong> indica claramente que os dois partidos ocupam<br />

lugares diferentes em relação ao sol.<br />

Se disséssemos que o agrado estético produzido por uma peça musical<br />

se guia pelo seu valor artístico, tal não impede que um simples apelo<br />

de trompa, um “Jodler” [canto tirolês] na montanha possa porventura<br />

arrebatar-nos mais do que qualquer sinfonia de Beethoven. Mas, neste<br />

caso, a música insere-se no naturalmente belo. Percepcionamos então<br />

o que é ouvido, não como esta determina<strong>da</strong> criação sonora, mas<br />

como uma espécie particular de efeito natural e, na sua coincidência<br />

recusamos o tributo de uma admiração adequa<strong>da</strong>, foi muito sobrestimado do ponto<br />

de vista poético e, sobretudo, musical. Da<strong>da</strong> a pobreza de escritos brilhantes sobre<br />

a música, surgiu o hábito de tratar e citar Heinse como um esteta musical excelente.<br />

Poderia, de facto, ignorar-se que, após alguns vislumbres pertinentes, irrompe quase<br />

sempre uma torrente de lugares comuns e erros manifestos, de modo que semelhante<br />

falta de cultura causa justamente pavor? Além disso, a par <strong>da</strong> ignorância técnica de<br />

Heinse, embatemos no seu juízo estético erróneo, como demonstram as suas análises<br />

<strong>da</strong>s óperas de Gluck, Jomelli, Traëtta e outros, nas quais se de<strong>para</strong> apenas com<br />

exclamações entusiastas, em vez de ensinamentos artísticos.<br />

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