Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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110 Eduard Hanslick<br />
não tem forma alguma fora do conteúdo. Façamos um exame mais<br />
pormenorizado.<br />
A uni<strong>da</strong>de autónoma, esteticamente indivisível, musical de pensamento<br />
é em to<strong>da</strong> a composição o tema. As determinações primitivas<br />
que se atribuem à música como tal devem detectar-se já no tema, o microcosmo<br />
musical. Escutemos qualquer tema principal, por exemplo,<br />
<strong>da</strong> Sinfonia em si maior de Beethoven. Qual é o seu conteúdo? Qual<br />
a sua forma? Onde começa esta, onde acaba aquele? Esperamos ter<br />
demonstrado que um sentimento determinado não é o conteúdo do movimento,<br />
e manifestar-se-á apenas sempre mais óbvio neste caso como<br />
noutro qualquer. Que é que se pretende, então, denominar como conteúdo?<br />
Os próprios sons? Decerto, mas eles já estão formados. Que<br />
é a forma? Mais uma vez, os próprios sons – mas eles são já a forma<br />
realiza<strong>da</strong> e completa.<br />
To<strong>da</strong> a tentativa prática de querer se<strong>para</strong>r, num tema, a forma e o<br />
conteúdo leva a uma contradição ou à arbitrarie<strong>da</strong>de. Por exemplo, alterará<br />
o seu conteúdo ou a sua forma um motivo que é repetido por<br />
outro instrumento ou numa oitava superior? Se, como quase sempre<br />
acontece, se afirmar o último, então resta como conteúdo do motivo<br />
apenas a série de intervalos enquanto tal, enquanto esquema <strong>da</strong>s cabeças<br />
<strong>da</strong>s notas, como se oferecem à vista na partitura. Isto, porém, não é<br />
uma determinante musical, mas algo de abstracto. Passa-se com elas o<br />
mesmo que com as janelas de vidro de um pavilhão, através <strong>da</strong>s quais<br />
a mesma região se pode ver ora vermelha, ora azul ou amarela. Estas<br />
não alteram assim nem o seu conteúdo nem a sua forma, mas apenas<br />
a coloração. A infinita mu<strong>da</strong>nça de cor <strong>da</strong>s mesmas formas, desde o<br />
contraste mais pronunciado até ao matiz mais delicado, é inteiramente<br />
peculiar à música e constitui um dos aspectos mais ricos e desenvolvidos<br />
<strong>da</strong> sua eficácia.<br />
<strong>Um</strong>a melodia esboça<strong>da</strong> <strong>para</strong> piano, que ulteriormente é orquestra<strong>da</strong><br />
por outro, recebe assim por seu intermédio uma nova forma, mas não<br />
adquire forma só assim, pois já é um pensamento revestido de forma.<br />
Menos ain<strong>da</strong> se pretenderá afirmar que um tema altera o seu conteúdo<br />
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