Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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64 Eduard Hanslick<br />
amabili<strong>da</strong>de – se expressarão através <strong>da</strong> preferência consequente de<br />
certas tonali<strong>da</strong>des, ritmos, transições, de harmonia com os momentos<br />
gerais que a música é capaz de reproduzir. O que oferece o compositor<br />
sensível e o engenhoso, o gracioso ou o solene, é em primeiro lugar<br />
e sobretudo música (produto objectivo). O momento subjectivo, em<br />
princípio, permanece sempre subordinado, só ingressará numa diversa<br />
relação de grandeza com o objectivo, em consonância com a diferença<br />
<strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de. Comparem-se de preferência naturezas subjectivas,<br />
em que se lide com a expressão <strong>da</strong> sua interiori<strong>da</strong>de poderosa ou<br />
sentimental (Beethoven, Spohr) em contraste com as claramente modeladoras<br />
(Mozart, Mendelssohn). As suas obras diferenciar-se-ão entre<br />
si por peculiari<strong>da</strong>des inequívocas e reflectirão como imagem global a<br />
individuali<strong>da</strong>de do seu criador; no entanto, to<strong>da</strong>s elas, enquanto belo<br />
autónomo, foram cria<strong>da</strong>s, umas e outras, de um ponto de vista musical<br />
por mor de si mesmas, e mais ou menos subjectivamente equipa<strong>da</strong>s só<br />
no interior dos limites desta modelação artística. Leva<strong>da</strong> ao extremo,<br />
pode, pois, conceber-se uma música que seria simplesmente música,<br />
mas nenhuma apenas sentimento.<br />
Não é o sentimento efectivo do compositor, como afecção meramente<br />
subjectiva, o que suscita nos ouvintes a mesma disposição anímica.<br />
Se admitirmos <strong>para</strong> a música semelhante força coerciva, reconhecese<br />
assim nela algo de objectivo, pois só este compele em todo o belo.<br />
Este algo de objectivo reside aqui nas determinantes musicais de uma<br />
peça sonora. Em sentido estritamente estético, podemos dizer de qualquer<br />
tema que ressoa orgulhoso ou sombrio, mas não que constitui<br />
a expressão dos sentimentos orgulhosos ou sombrios do compositor.<br />
Mais longe ain<strong>da</strong> do carácter de uma obra musical se encontram as<br />
condições sociais que dominaram a sua época. A expressão musical do<br />
tema é consequência necessária dos seus factores sonoros escolhidos<br />
desta maneira e não de outra, e deveria demonstrar-se na obra determina<strong>da</strong><br />
(e não apenas a partir do ano e do lugar de nascimento) que tal<br />
escolha brota de causas psicológicas ou histórico-culturais; e uma vez<br />
feita esta comprovação, semelhante conexão seria, antes de mais, um<br />
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